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27 janeiro 2018

Tangerinas

A chuva despertou as sementes e é um regalo estender os olhos sobre os mantos e os tufos de pequenas ervas que rebentam por todo o lado: nos recantos mais escusos, nas frinchas mais delgadas. Bem perto desta valeta atapetada de verde, havia uma tangerineira. Perguntei-lhe se ela queria participar na composição e ela logo agitou os ramos, creio que de contente, e deixou cair estes dois frutos. Traziam aquele aroma fresquíssimo et très exquis que lhes é característico quando são boas. Evoquei alguns versos do poema do Eugénio de Andrade

fruto que me fascina,
pelo sabor, pela cor,
pelo aroma das sílabas
tangerina, tangerina

lembrei-me da cidade que as nomeou, Tânger, e das aventuras que lá vivi, daqui fui parar a outros lugares do mundo onde também fui aventurada, voltei à tangerina, mas através do gelado, que é o meu favorito acompanhamento do fondant au chocolat, daqui lembrei-me de que já não preparo esta sobremesa há muito tempo e de como o tempo passa depressa... olhei a paisagem do vale do Corgo (que merecia figurar aqui ao lado), fiquei sem respiração, senti-me afortunada, inspirei profundamente, fui atingida nas narinas pelo cheiro das tangerinas e comi-as, sem mais delongas, que isto de um pequeno fruto nos pôr a cabeça a girar à volta do mundo até ir dar a cogitações sobre a existência pode ser obra de insondáveis desígnios, mas comê-lo é o que faz mais sentido. E, ah, como gosto da vida com sentido! E com sabor.

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