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31 julho 2018

Fatum

Gosto destas orquídeas, mesmo assim já marcendas.

Gosto de troncos, mesmo esburacados do tempo, dos fungos, dos insectos, como este.

Gosto de cogumelos, mesmo parasitados por outros fungos, como é o caso do boleto rosado, cortado em duas metades.

Tudo isto é vida, tudo isto é Fatum.

29 julho 2018

Tronco de bétula

— Trouxe-te um tronco com um padrão que me parece interessante.

Concordei, guardei-o, esqueci-o, encontrei-o, perdi-o, reencontrei-o e casei-o com estes cogumelos e flores que lhe emprestaram uma roupagem estival.

Talvez seja exagerado chamar-lhe tronco, mas como alternativa só me ocorre «ramo», e se «tronco» o engrossa, «ramo» adelgaça-o demais. Alguém conhece termo intermédio?

27 julho 2018

Pouco a pouco

Esta composição já cheira a Outono: nas folhas de ácer e de eucalipto, nos tons acastanhados das flores do castanheiro, esses rabichos peludinhos que juncam o chão dos soutos, por esta altura. Mas alegrem-se os estivalistas ferrenhos, que ainda há flores nas árvores e o verde ainda predomina nas serras que não arderam no ano passado. Por mim, dou-me por contente com estes sinais ténues de transição.

25 julho 2018

Abundância

Ainda há alguns cogumelos, a Centaurea nigra está em flor, já os fetos amarelecem e os ribeiros vão mansos. É tempo de ir para o campo e aproveitar as dádivas de Madre Natura.

24 julho 2018

Que farei com este cogumelo?

Talvez este cogumelo grande tenha sido o maior que encontrei. Não o consegui identificar, mas registei o lugar e a data, na esperança de repetir o prazer de tal achado e de fazer qualquer coisa mais com ele, para além de o usar noutra composição. Talvez faça uma capa, um chapéu, uma taça...

23 julho 2018

Uma tábua achada

Sair cedo para a montanha é sempre bom, mas no verão tem o supremo prazer da frescura da vegetação orvalhada. Hoje já o sol se tinha erguido há 1 hora quando encontrei esta tábua, bem batida pelos destemperos do tempo, junto de um monte delas, mais estreitas. Não foi preciso andar 2 metros para encontrar os fungos que estão no centro. Como tudo isto se passou debaixo de uma cerejeira, bastou puxar umas pernadas para colher os frutos. As flores amarelas estavam a 10 metros, numa planta tão carregada delas que parecia um enorme candelabro. Os fetos estavam onde costumam estar, por ali, à mão de colher. Há horas assim, felizes.

22 julho 2018

Runas

Para quem exclusiva ou inclusivamente aprecia o simples, o minimalista, o zen, o mono-elementar, o “só-um-de-cada-vez”, dedico esta composição, se se pode considerar que escolher o fundo já é compor.

A primeira associação que faço ao olhar para esta imagem é com caracteres de alguma escrita antiga, rúnica, mágica. Mas suspeito que é efeito do olhar amante de catarpácios, com vícios alfarrábios. Por isso, gostava de saber das vossas impressões à primeira vista.

20 julho 2018

Cogumelo miniatural

Eis uma amostra da riqueza da natureza da barragem de Vila Pouca de Aguiar: folhas de silva pontuadas por outro ser vivo — um fungo? —, umas vagens secas de ervilha selvagem, uma Monotropa hypopitys, que é a flor branca ao cimo, à esquerda, da qual falarei um dia destes, e, maravilha maior, o cogumelinho minúsculo vermelho alaranjado, espécime de alguma variedade de Hygrocybe. Já lá encontrei este cogumelo liliputiano mais vezes, aos pés da mesma árvore, habitante da zona mais sombria do pequeno bosque de coníferas. Contrasta na cor e no tamanho com o majestoso cedro com que convive, parece ali plantado pelas mãos de alguma fada generosa e brincalhona.

18 julho 2018

Rapace, gato ou macumbeir@

Ontem ao fim da tarde, fiz um passeio pelo parque da cidade. Estava bonito, com sombras frescas, folhagem abundante, de um verde furioso. Encontrei vários grupos de jovens em amenas cavaqueiras, alguns cogumelos secos, estas 3 folhas de ácer caídas, já secas, de cor bonita. À falta de cogumelos frescos, procurei nos lugares onde os encontro e lá estavam estes e bastantes mais. Junto a um carreiro, achei estas penas, escolhidas em dois bons montes delas, despojos nítidos de dois pombos infelizes. E não é a primeira vez que no mesmo lugar encontro estes restos de ave. Fiquei sem saber se foi ave de rapina, se gato passarinheiro, se oficial de macumba. Esta última possibilidade parece-me tão ou mais credível do que as duas primeiras, a julgar pelos abundantes vestígios de tais práticas pelo parque.

17 julho 2018

Flores de todo o ano

Uma composição feita em Dezembro, mas que o não parece, pela presença das flores. Acontece que esta espécie, o Abutilon megapotamicum — comummente nomeada de modo assaz criativo por «lanterna-chinesa, sininho, balõezinhos» —, é como as rosas da rainha Santa Isabel, floresce durante todo o ano. Parece-me, portanto, adequada para alegrar a vida de quem sofre com as agruras da estação grisalha. Isto escrito num dia de sol, em que há flores por todos os cantos, parece descabido. Tomem-no, então, como um treino para não perderem a prática do confronto com outras descabidelas do mundo, que elas são como a Maria Natura: estão sempre activas, não descansam, não param, não vão de férias.

16 julho 2018

O Douro não é só vinhas (1)

O Douro não é só vinhas, oliveiras e paisagens de cortar a respiração. O Douro tem uma flora variada, surpreendente, ainda muito florida nesta altura do ano. Permite a experiência, mais rara do que parece, de uma pessoa ficar rodeada de flores. Só por isso vale a pena vir cá.

Inauguro esta série, que terá o título que tem este post, com dois dos achados mais comuns na região: a baga de sabugueiro e a flor da cenoura brava (Sambucus nigra e Daucus carota).

15 julho 2018

É fartar...

Ontem, 14 de Julho de 2918, hemisfério Norte, e eu com o cesto com mais quantidade e variedade de cogumelos do que nos dias mais fartos do último Outono. Esta composição não exemplifica a inusitada prodigalidade micológica deste Verão, mas ainda o dia era uma criança. Duas horas depois, era cesto a transbordar e mais de um cento deixado no bosque. Isso permite-me jogar com a diversidade de flores em termos e tipologias por mim não imaginados. Outro motivo de contentamento é a variedade de rochas da região. Granito dourado de Vila Real, prateado de Vila Pouca, rosa não sei de onde, xisto vermelho, xisto azul, cinzento quando seco, preto para alguns. And that's all, folks.

14 julho 2018

Aggiornamento

«Quando as galinhas tiverem dentes» já era; agora quem tem dentes são os cogumelos. Actualizem-se, updatem-se, para não escrever «updeitem-se», que roça o paradoxo.

13 julho 2018

Composição com Álvaro

Há quem embirre com o amarelo, há quem embirre com certas flores, há quem embirre com cogumelos. Três géneros de embirradores e eu nenhum deles. É que eu adoro amarelo, não há flor que considere feia e amo cogumelos. Cogumelos de todas as cores, feitios e tamanhos, de todas as estações, incluindo as de caminho-de-ferro. Cogumelos comestíveis e incomestíveis, medicinais, tóxicos e letais. Cogumelos solitários e gregários, naturais e de cultura. Cogumelos! COGUMELOS, ouviram? Mas também pinhas, folhas líquenes, musgos, conchas, pedras e árvores. Estas ficam para outra vez, que agora estou cansada das intromissões do sr. Álvaro de Campos neste post. Apesar disso, ainda não embirro com ele. Pelo contrário, amo-o e isso faz-me andar com ele muitas vezes na cabeça que se enche de palavras que precisam de descer à boca, à ponta dos dedos, por onde se escapam fazendo um tic-tic silencioso no teclado de escrever. ;-)

12 julho 2018

Miramar

Na praia onde fiz esta composição não há supermercados, nem lojas, nem casas feias, apesar de várias em ruína, nem cogumelos, apesar de aí os encontrar quase sempre. Mas há flora silvestre em abundância, nos lotes de terreno ainda sem construção, ao lado de jardins cuidados. Trata-se de Miramar, esse lugar de peregrinação nostálgica.

11 julho 2018

Heráldica por acaso

Nunca tinha visto uma dedaleira tão cor-de-rosinha. Parece que também existem em branco. Se alguém souber de alguma, que me faça chegar as coordenadas, que eu sou capaz de fazer uns bons quilómetros para a ver e talvez usar.

O desenho geral desta composição sugere-me um brasão. Foi involuntária essa construção, mas já que assim saiu, agrada-me a ideia de poder ser um anti-brasão: brasão, pela forma; anti, pela efemeridade da matéria, pois a pedra dos brasões não servirá também para garantir o nome das famílias muito para além da vida e fortuna dos seus elementos?

10 julho 2018

Rebentos de carvalho

Os carvalhos são árvores admiráveis. Talvez por isso sejam das poucas árvores usadas para sublinhar as virtudes humanas de resistência física, psicológica e moral. Mas é curioso verificar que com esta finalidade não se usa a palavra comum, mas «roble». Talvez por «carvalho» parecer plebeu, de tão vulgar e «roble» ser tão evidentemente nobre.

O que aqui quero referir é a cor magnífica dos rebentos tenros de uma espécie de carvalho que usei nesta composição, feita na Primavera. Entre o vermelho e o rosa purpúreo, estas folhinhas em broto já parecem flores.

09 julho 2018

Passeio matinal profícuo

Aos nove dias do mês de Julho de dois mil e dezoito tenho tantos cogumelos no cesto como no auge do Outono, a estação considerada rainha dos fungos. Não será assim todos os anos, por isso vou tentar aproveitar ao máximo enquanto dura. Esta abundância permite combinações com as insuperáveis flores, mesmo quando são tão humildes como as que entram nesta composição. As penas foram, tal como todos os outros elementos, tona de pinheiro inclusa, encontradas durante o passeio de hoje de manhã.

08 julho 2018

O rubro das papoulas

Pode gostar-se ou não de papoilas, mas é difícil ignorar-se flor ao mesmo tempo tão delicada e tão impactante. Aqui joga tanto com o verde que, apesar das flores brancas, lembra a bandeira nacional. Assim seja.

07 julho 2018

Fetos já outonais

O carvalhal onde fiz esta composição que leva fetos já com cores outonais tem musgos com fartura, líquenes aos montes, cogumelos a dar com um pau. Não tardarei a voltar a esse paraíso.

06 julho 2018

Pequenas e grandes maravilhas do Alvão

Encontrei estas pequenas maravilhas na barragem de Vila Pouca. Os pequenos cogumelos vermelhos ainda não os consegui identificar, mas ainda não perdi a esperança. Os líquenes das pedras eirosas que abundam neste lugar mereciam registo fotográfico e visitas guiadas. A urze está assim bonita, a albufeira está bem cheia, as mesas de piquenique estão à espera de utilizadores. Só é preciso que as pessoas prefiram lugares destes aos centros comerciais. Está bem que nestes há ar condicionado, mas o ar livre tem estado bem fresquinho.

05 julho 2018

Those left behind

Mesmo citando Pessoa, corro o risco de este post parecer escrito por Paulo Coelho ou seus congéneres, mas aí vai: conhecem, reconhecem a beleza do que é pequeno, insignificante, esfarrapado, partido, esburacado, «leve, breve, suave»?

04 julho 2018

Nas Pedras

Esta flor maior — Hypericum calycinum — é a que imediatamente associo a esse lugar de peregrinação que é o Parque Termal das Pedras Salgadas. Entre as maravilhas deste santuário botânico, encontra-se a árvore que deixou cair este ramo já seco e ainda com pinhas, a prodigiosa sequoia. As sementes são de ácer, os cogumelinhos quase perdidos no meio da composição eram os únicos encontrados até ao momento. Minutos mais tarde, eram às resmas.

03 julho 2018

Sambucus nigra

O sabugueiro ainda está em flor. Alguns não gostam desta árvore porque suja muito quando tem bagas; eu gosto da forma umbelada das flores. Parece que têm propriedades medicinais, quando infusas depois de secas. Lembro-me de em criança fazer pomada com cascas de ramos tenros derretidas em azeite fervente. Era o remédio caseiro para as queimaduras, muito procurado por ter grande efeito no alívio de tão terríveis dores. Imagino que também possa ser um bom creme de beleza. Nunca o vi à venda, hei-de tentar recuperar essa receita secreta. Agora mesmo, ao googlar «creme de sabugueiro», fiquei a saber que a flor também foi ao casamento mais badalado do ano, entrando como ingrediente do bolo da noiva Meghan Markle. Pronto, isto convenceu-me a procurar a receita perdida do creme mágico. É que se conseguisse convencer a duquesa de Sussex a usá-lo para manter o aspecto porcelanoso da sua magnífica pele, podia estar aqui um filão económico a explorar. Ah, talvez devesse melhorar o experimento com alguma virtude secreta dos cogumelos... Definitivamente, não se pode menosprezar as características da Sambucus nigra.

Falta-me outra memória de infância relacionada com esta árvore. Na noite de consoada, nas aldeias ainda sem televisão por mais uns bons aninhos, a criançada jogava «ao rapa». O rapa jogava-se com um pequeno pião com o corpo em forma de dado, feito, precisamente, de ramo de sabugueiro.

02 julho 2018

Prímulas e orquídeas

Esta composição também já foi feita há uns tempinhos, quando as prímulas floriam nos poucos lugares onde as há selvagens. Aqui acompanham com umas folhas da bela e procurada orquídea Dactylorhia maculata. Há uma semana vi dois prados cheios delas no Alvão e imaginei que visões paradisíacas seriam para orquidófilos maluquinhos que fazem centenas de quilómetros para fotografar os objectos da sua paixão. Os promotores do turismo transmontano deviam explorar mais o capital botânico da região.

01 julho 2018

Do sol de Inverno e da chuva de Verão

Ainda com flores, mas das primeiras do ano, as mimosíssimas mimosas, a composição de hoje foi aninhada na curva de uma raiz entroncada, uma das muitas admiráveis extravagância de Madre Natura. Foi feita num dia de Inverno com sol, o contrário de hoje, um dia de Verão com nuvens e chuva. Há quem diga que dantes não era assim, que o tempo está estranho; estará, mas não por estas trocas, que delas tenho lembranças já antigas.