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31 maio 2018

Desafio

Um monte de orelhas-de-judas sobre os três Pleurotus que já aqui apareceram várias vezes não é combinação que se espere duma composição com pretensões decorativas, mas o risco de arranhar o gosto mais convencional é um desafio estimulante para Maria Natura.

30 maio 2018

A desenrola

Para além de gostar de cogumelos, de flores, de conchas, de líquenes, aprecio fetos. Felizmente, na região, há muitos e de várias espécies. São presença certa nos recantos bem húmidos dos bosques, nas margens e nos interiores dos ribeiros, ainda que de pouca dura.

Nesta composição usei exemplares na fase da desenrola, fase que, se não houvesse aquela do delírio de cores no Outono, seria a minha preferida.

29 maio 2018

Cogumelo versátil

A versatilidade do cogumelo que se encontra em maioria nesta composição advém-lhe da cabeça de um vibrante vermelho-alaranjado, das lâminas esverdeadas quando jovem que se tornam castanhas quando mais velho ou algumas horas decorridas após o corte. Os nomes por que é conhecido ainda exibe maior versatilidade: Agaricus squamosus, Hypholoma aurantiaca, Naematoloma aurantiaca, Psilocybe aurantiaca, Psilocybe ceres, Stropharia aurantiaca, Stropharia percevalii var. aurantiaca, Stropharia squamosa var. aurantiaca, Stropholoma aurantiacum... e não esgotei a lista da Wikipédia.

Nas suas possibilidades não está incluída a de ser próprio para consumo humano.

28 maio 2018

À procura de fundos

Uma composição depende quase tanto dos elementos que a integram quanto do cenário em que acontece. Constantemente busco, experimento, rejeito, aproveito, reutilizo fundos. Os preferidos, ao ar livre, são as rochas com líquenes e a madeira com patine. Este é uma laje de xisto. Como estava junto de um ribeiro, resolvi molhá-la e... apareceu este tom de azul. Desde então, já fiz lá quase uma vintena de composições. Quanto a esta, repare-se que leva apenas dois ingredientes: um fungo, Schyzophilum commune, de tamanho bastante “incommune” e um líquen que se expande e verdeja a olhos vistos quando em contacto com água, a já aqui referenciada Lobaria pulmonaria.

27 maio 2018

26 maio 2018

Semelhantes

Esta é mais uma da série negra. Desta vez pretendi evidenciar as semelhanças que existem de cores, formas, padrões, texturas entre os reinos mineral, vegetal, animal e micológico, através das pedras, das carapaças, das conchas e dos cogumelos.

25 maio 2018

Ah, o poder das flores

Fora da época de cogumelos e em pleno Maio florido, não resisto às flores do monte. Tenho feito muitas composições com elas como protagonistas, portanto, a partir de agora, elas entremearão com os fungos, nestas publicações, às vezes na companhia de algum ou alguns cogumelos que vão aparecendo, outras vezes sem eles. Esta flor roxo-azulada que se chama Aquilegia vulgaris é, de facto, vulgar no Marão, por estes dias. Mas não a vejo em mais lado nenhum nos passeios pelos arredores.

Esta composição, feita numa manhã de sol esplendoroso, sobre uma pedra no meio de um ribeiro umbroso, com água cristalina e de corrente ainda bem audível, também contém pedaços de um feto e de um musgo capiloso, encontrados no chão, provavelmente vítimas das tempestades. Apesar de já apresentarem evidentes sinais de perda da vida nos tons amarelo e castanhos que exibem, continuam muito bonitos.

24 maio 2018

Conchas

Sempre gostei muito de conchas e chego a pensar que no fundo o que me leva a apreciar os cogumelos é a aparência que têm de coisas do mar, corais, anémonas, carapaças de caranguejos, certas conchas. Possuo uma colecção razoável destas, mas continuo a procurar as de formas e cores incomuns. Às vezes lá aparece uma ou duas de primeira escolha, como foi o caso da irregular, que está na parte de cima da composição e da de Santiago, que está no centro a servir de pequena taça.

23 maio 2018

Pantorras

Tantos anos a passar na Linha do Corgo e nunca tinha visto estes cogumelos com cabeça unida ao pé... Este ano, no início de Março apareceram por lá às dezenas. A primeira vez que soube da existência deles foi em Chamonix, já lá vão décadas. Escolhera um prato da ementa que se anunciava como contendo «morilles». Perguntei o que era, um outro cliente respondeu-me: «Ce sont des champignons venimeux...». Comi e... fiquei fã. Por cá chamam-lhe «pantorras», mas não são apreciadas como em território gaulês, conhecido pelos seus paladares «exquis». O nome científico é «Morchella» e há as falsas... que é preciso saber identificar.

22 maio 2018

Até breve

Tenho no baú composições muito mais impactantes do que esta, mas gosto do ar despretensioso dela: poucos e humildes cogumelos, primeiras flores de Primavera, meia pinha de pinheiro manso, um ramo seco apanhado do chão, para onde o vento atirou muitos mais. Feita perto de um lugar de que gosto muito, o Parador Nacional de Verín, onde hei-de voltar em breve.

21 maio 2018

Via Láctea

Esta foi mais uma da fornada daquela tarde fria de Dezembro em que trabalhei freneticamente sobre um muro. Tinha tantos cogumelos brancos que me decidi por uma composição monocromática... ou quase. No fim, pareciam-me constelações e a cor levou-me à Via Láctea, nela me quedando, mesmo que alguns dos mais bonitos cogumelos que a integram sejam exemplares da terrível Amanita phalloides, o cogumelo mais venenoso do planeta. Como não mata nem fere quem olha para ele, que sirva ao menos para tentar fazer bonito.

20 maio 2018

Árvores derrubadas

Esta composição foi feita no interior do tronco de um pinheiro enorme derrubado pelas primeiras tempestades de Inverno. Impressionou-me bastante o tamanho da árvore, fiquei a olhá-la como quem vela um gigante, lamentando que um ser vivo tão imponente fosse destruído pela impiedade do vento, mas também com a consolação de que ainda teria outra vida como móvel ou trave ou até mesmo como lenha. Estava longe de imaginar que 4 meses depois o vento voltasse a varrer o bosque, desata vez com força totalmente devastadora.

Muitas vezes me estremecia o coração ao imaginar aquelas árvores devoradas pelas chamas, não me ocorreu que as haveria de ver decapitadas pela mão da Madre Natura.

18 maio 2018

Estrela-do-mar e anémona da Linha do Corgo

O meu antigo fascínio por cogumelos enraíza-se no facto de eles me lembrarem seres aquáticos e nesta composição tentei criar uma cena marinha. Estava em plena epifania por ter achado os cogumelos com forma de coral (Daedalopsis confragosa), tinha encontrado o cogumelo em forma de concha (Peziza), tinha relativa abundância dos cogumelos mais comuns e a variada flora da Linha do Corgo forneceu-me a estrela-do-mar e os rabichos de uma anémona. Faltou-lhe um fundo azulado, mas esse só o encontrei mais tarde, como adiante se verá...

17 maio 2018

(De)composição

Por tão ostensivamente apresentar flores desfolhadas, cabeças de cogumelos e folhas isoladas, esta devia chamar-se «decomposição». Mas que valha a designação oposta por não estarem as partes dispostas ao calhex intencional nem à trouxe-mouxe involuntária.

16 maio 2018

Uma camélia traviata

Embora à primeira vista não se detecte logo, há uma camélia nesta composição: velha, já castanha, seca, sem algumas pétalas. Gosto muito destas flores porque são das primeiras do ano, porque são símbolo de elegância firmado pela Chanel, porque me lembram o famoso romance de Dumas Filho e sua ainda mais famosa adaptação operática, «La Traviata». Enfim, pareceu-me que esta Violetta Valéry em evidente final de carreira mantinha dignidade suficiente para acompanhar os cogumelos e a Lobaria pulmonaria.

Esta colheita foi feita num magnífico dia de Abril, na magnífica Mata Nacional do Buçaco, lugar que bem merecia visitantes mais escrupulosos.

15 maio 2018

Nostálgica, ma non troppo

Esta actividade também é uma oportunidade para expandir a geografia conhecida e para revisitar a afectiva. Esta composição, por exemplo, foi feita na margem direita do rio Corgo, na Levada do Fidalgo, lugar apetecido na adolescência, para banhos de rio e prazeres da reunião com colegas, amigos. Ficava longe, num tempo em que os automóveis eram propriedade da alta idade adulta, e, por isso, raramente era visitado mais do que uma vez por ano. Levava-se lanche, ia-se a pé, com muito alegria, na companhia de pares da mesma geração de três ou quatro aldeias vizinhas da parte norte da mesma freguesia.

Ao fazer esta composição, o espaço que me rodeava estava sem ninguém, em silêncio; no espaço que me habitava havia jovens que chamavam uns pelos outros, chapinhavam, chapavam na água, nadavam e riam, riam com aquela vontade e frescura próprias de uma inocência tão intacta que chega a lamentar-se mais tê-la tido do que tê-la perdido.

14 maio 2018

Confusões perigosas

Os dois cogumelos grandes expostos com a cabeça do direito são dois belos exemplares da espécie Macrolepiota venenata, cujo perigo de confusão com a Macrolepiota procera, os populares e deliciosos frades, foi recentemente divulgado pelo «Público». De facto, um apanhador não avisado pode facilmente levar estes para casa convencido, sem lhe ocorrer qualquer dúvida, de que vai comer frades. As diferenças não são tão subtis como se pode julgar: o frade tem o pé mais alto, o chapéu mais em roca (característica distintiva útil apenas se ainda estiver fechado), o padrão da pele do pé e da cabeça e anel também são diferentes, o aroma da procera fresca é inconfundível, na venenata surgem manchas ligeiras avermelhadas na carne quando cortada. Mesmo assim, a confusão tem levado famílias ao hospital e nem todas as pessoas saíram vivas ou ilesas.

Creio que os ávidos apanhadores de cogumelos comestíveis que há no campus da UTAD sabem bem destas diferenças, pois se fossem da espécie comestível, não teria encontrado tantos como os que encontrei.

13 maio 2018

Flores de Inverno

Fiz esta composição numa produtiva tarde muito fria de Dezembro. Encontrei um muro com bons musgos, tinha comigo muitos cogumelos e acessórios e senti-me possuída por um frenesi que me tirou dali quando mal se via. Os poucos passantes de automóvel, ao verem-me, de longe, começavam a abrandar a marcha, talvez para se certificarem do que estaria a fazer no alto da montanha uma mulher tão enroupada que mais parecia um urso.

Dispostos os cogumelos e as conchas, pareceu-me que faltava qualquer coisa à composição. Uns passos em direcção à berma oposta foram suficientes para encontrar estas flores liliputianas bem recolhidas numa gruta presepina. Uma surpresa no início do Inverno, no cimo do Marão.

12 maio 2018

Minha flor silvestre

Apesar de a minha predilecção recair sobre os cogumelos, não resisto às flores, sobretudo às silvestres, que, tal como os cogumelos, são esteticamente menosprezadas. É certo que, em geral, duram muito pouco, fanando-se mal se colhem, mas podemos colher e fixar a beleza delas através desse prodígio que é a fotografia. Vêm estas considerações a propósito dos narcisos desta composição, que parecem de jardim, mas apanhei-os num prado bem insulado entre montes já bem altos.

11 maio 2018

Concentrado de padrões, formas e cores

A variedade de padrões, formas e cores que encontro nesta actividade compositiva, quando em “plein air”, é sempre surpreendente. Por exemplo, neste pequeno excerto de composição, podem ver-se aquelas características nos diferentes líquenes e musgos que constituem o fundo, nas diferentes espécies de cogumelos, nos ramos de líquen e de pessegueiro florido, que se encontram na parte superior.

10 maio 2018

Casar Terra e Mar

Há que tempos não publicava uma Tronccata und Funghi... Nesta usei duas grandes Pezizas, vários Trametes versicolores, líquenes e conchas, mais uma vez à procura de casamentos felizes entre a terra e o mar.

09 maio 2018

Rima natural

Um dos aspectos extraordinários da natureza é a repetição de formas e padrões em espécies diferentes, constatação que passo a exemplificar com a rima entre as folhas de umbigos-de-vénus e o cogumelo do centro desta composição, uma Cantharellula umbonata. As folhas gladioformes são de Asphodelus, as outras são de fetos com o avesso exposto, para exibição de esporos, e as pintalgadas são de medronheiro.

08 maio 2018

Arranjos e arranjinhos

E para contrastar com delicadezas e outras finezas, aqui vai uma composição que deve créditos ao Brutalismo, apesar das tentativas de disfarce com aquele ar mais arranjadinho no centro.

Se esta receita simples de tentativa de estética compensadora desse para pagar todas as dívidas, acabar-se-ia a Maria Natura, porque a sua criadora concentraria atenções exclusivas em actividades mais rentáveis... Enquanto os deuses das combinações surpreendentes e das soluções miraculosas não se decidirem a democratizar o segredo dos arranjinhos («Arranjinhos For All»), continuará Maria Natura a tentar combinar terra e mar, com cogumelos, conchas inteiras e fragmentos delas, driftwood, como na composição presente.

07 maio 2018

Compensações

Apesar dos ribeiros cantantes, das albufeiras subidas e do vigor das cascatas, a superfície do solo está seca, condições pouco favoráveis ao desenvolvimento de fungos.

Numa incursão a um bosque prometedor na serra da Estrela apenas encontrei estes dois coprineluzitos que mal se vêem na composição. Em contraste, encontrei grande cópia destas pequenas pinhas, de que sou bastante apreciadora, e de líquenes.

06 maio 2018

Dia da Mãe

Esta é a composição com mais sucesso no Instagram. Publico-a hoje aqui porque me parece que o ar festivo que tem servirá para assinalar o Dia da Mãe. Se não servir para as vossas, serve, de certeza para a minha, que Mãe Natura e tia Ventura ma guardem por muito e bom tempo.

Esta composição também é uma prova do quanto uma meia-dúzia de cogumelos bonitos pode compor outra meia-dúzia de feios ou, vá lá, assim-assim. Refiro-me, respectivamente, aos branquinhos e cor-de-rosinha, aos castanhos, que parecem solas, e aos pretos raiados de branco e cinzento, os Trametes, que por acaso eram falsos Trametes, que isto de ser uma coisa e parecer outra também chega ao universo fúngico.

05 maio 2018

Lobaria pulmonaria

Procurei o líquen que entra nesta composição durante algum tempo. Como não o encontrava, cheguei a pensar que não existia na nossa região. Depois das tempestades de Março, dei com vários exemplares caídos no chão, no meio dos carvalhais velhos. É verde do lado direito e castanho e bege do avesso. Seca sem água e com ela vira viçoso num instante. Em tempos, foi usado com fins terapêuticos, é um excelente indicador da qualidade do ar, há países onde é proibido colhê-lo, tem um nome científico bem bonito, «Lobaria pulmonaria».

04 maio 2018

As manchas das pedras

Nesta composição tento tirar partido dos padrões que a vida desenhou sobre a rocha: uma mancha de musgo e uma de líquen, onde depus uma concha de caracol. Pela fartura de cogumelos se vê bem que foi feita em dias bem mais frescos e húmidos. Continuo sem conseguir identificar estes chapeuzinhos vermelhos.

03 maio 2018

A cavalinha

O Facebook tem-me mostrado muita estupidez, bastante inteligência e beleza, algumas afinidades e muitas coisas nunca dantes vistas nem ouvidas. Entre as últimas encontra-se a planta que entra nesta composição, de folhas em forma de agulha, mas que pinheiro não é. Trata-se da cavalinha, nome comum do Equisetum, palavra que, literalmente, quer dizer «rabo de cavalo». Nunca a vi por Trás-os-Montes, soube dela por um grupo de interesse botânico, fui encontrá-la no Parque da Curia, onde encontrei outras espécies de que aqui darei conta.

02 maio 2018

A garantia das flores

O dia em que fiz esta composição foi o primeiro em que senti verdadeiramente a Primavera e tentei impregná-la dessa alegria que vem do ar, que emana das coisas, que vem de dentro de nós, que irradia dos outros, não sei bem donde, mas que se sente em todo o lado, nos primeiros dias de sol morno. Também não sei bem como se projecta a alegria para aquilo que fazemos, que regras seguir, por que ordem dispor as coisas, embora me pareça que as flores sabem muito bem. Estão ali e pronto. Foi à procura dessa garantia que as convidei para esta composição.

01 maio 2018

Receita de um primeiro dia de mês

Nesta composição vão — ocultos — votos para o mês que hoje se inicia: flores, árvores recém-copadas, temperaturas amenas, tardes longas para poder desfrutar tudo isto com alegria.

Os desejos acima expressos parecem ter sido ditados por algum guru da auto-ajuda. Diferem, no entanto, no grau de dificuldade da receita. Normalmente, as dos auto-ajudistas são tão fáceis que parece que basta juntar água aos ingredientes para fazer o bolo da felicidade; nesta, é preciso o trabalhinho pessoal e intransmissível de ser cada um a fazer a mistura, sem a ajuda de batedeiras que elevem o ânimo ao ponto de castelo. Se depois sai bem o tal bolo... isso não se pode prometer e muito menos garantir.

Não sei como é que hoje o texto derivou para a culinária da felicidade e se desviou para longe da composição. É que uma certa variação é-me essencial para que o bolo — cá está outra vez — me agrade, mas não a receito a ninguém, que isto da variação/repetição tem de ser cada um a cortar a fatia como mais lhe apraz.