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28 fevereiro 2018

De canoa cheia

Há muito tempo que não publicava uma fotografia de composição com “canoa”, apesar de ter uma boa frota delas amarradas, embora reconheça que nem todas se encontram em bom estado de navegação. Hoje zarpa esta, a que desejo boa viagem, que bem precisa, dado o carregamento que leva, colhido pouco tempo após uns dias de chuva dos últimos dias do Outono passado. A benfazeja chuva que dá estes verdes e azuis viçosos que se vêem nos líquenes.

26 fevereiro 2018

Bucólica

Cá está outra composição feita sobre um tronco em decomposição. Foi feita durante numa tarde curta de Outono e foi motivo de um breve diálogo com um pastor de que retenho este momento, quando lhe notei alguma preocupação no ar com que observava os cogumelos.

Eu — Não são todos bons.

Ele — E então eu não sei!? É quase tudo bravo.

Recordei a distinção aprendida na infância campestre entre comestíveis e não comestíveis feita em termos de «bons/maus», «bons/bravos».

25 fevereiro 2018

Cladonia cistatella

Encontrar esta Lepista nuda foi um daqueles momentos em que qualquer coisa de muito bom desce — ou sobe? — por nós que nos deixa à beira do êxtase — ou plenamente mergulhados nele ele? Por ter colhido ser tão belo, senti-me na obrigação de lhe fazer render as virtudes, usando-o em várias composições. Mas o que me interessa hoje é chamar a atenção de quem lê estas coisas para uns pontinhos vermelhos logo acima do limite do cogumelo lilás. Trata-se de um líquen da espécie Cladonia cristatella, que em inglês é vulgarmente chamado «British soldier». Confesso que só reparei nele este ano, volvidas estas décadas todas de observação da natureza. É andar mesmo muito distraído...

23 fevereiro 2018

A Linha do Corgo

Um dia, Vila Real acordou sem comboio. Não queríamos acreditar, mas já estava. Tudo preparado em silêncio e feito de surpresa, como os assaltos, para tornar a coisa irreversível. Em boa verdade, a morte da Linha do Corgo vinha sendo anunciada há décadas. Nos anos 80, o comboio ainda tinha muita serventia e viajava-se nele na alegre, ruidosa e, não raro, mais boçal do que jovial, companhia de muitos estudantes e militares. Depois disso, foi uma queda bastante visível. Primeiro, foi muito diminuído em número de carruagens, depois passou a uma composição mínima e, nos últimos anos de vida, não sei se chegou a ser uma só carruagem, espécie de autocarro pequeno sobre carris. Era evidente que não tinha utentes que o sustentassem, era previsível que acabassem com ele.

Poder-se-ia discutir a sua utilidade real, a sua viabilidade, mas a linha foi encerrada sem aviso e, antes que houvesse tempo de organizar protestos e apelos, os carris e as travessas foram arrancados. Mais tarde aplanaram-lhe toscamente o piso, o que permite a sua actual utilização por ciclistas e caminheiros. Lá vem um ano ou outro em que silvas e giestas tomam conta dela. Os edifícios dos apeadeiros e das estações entraram em estado de morte lenta, aqui e ali apressada por vândalos que os esventram, cobrem de enormes rabiscos de gosto atroz, atulham de toda a espécie de dejectos que a natureza e a estupidez da humana espécie são capazes de produzir. Apesar destes tratos de polé, do desprezo de muitos, da indiferença da maioria, do abuso de alguns moradores das aldeias por onde passa, a Linha do Corgo mantém-se como um dos mais belos trilhos da região. Percorrê-la é andar ladeado de vinhedos, de taludes recobertos de mantos de várias espécies de líquenes, é poder rolar os olhos por encostas a pique e vales profundos, pela luzidia e rumorosa serpente do rio ao fundo, por horizontes de montes e montes e montes.

Foi lá que encontrei quase todos os elementos desta composição e foi sobre uma das lajes de xisto resultantes de uma derrocada que a fiz.

22 fevereiro 2018

Mimosas com cheirinho a gramática

Cá estão as esperadas mimosas. Esperadas porque anunciam a Primavera, embora não sejam as primeiras flores, pois encontrei outras com um amarelo também vibrante, em Dezembro, mas sobre isso escreverei um destes dias. São as mais abundantes e por isso ninguém as pode ignorar. Há quem deteste a planta por ser infestante, o que é argumento de peso. Pessoalmente, aprecio os mimosais por serem habitats de cogumelos, e as flores, mas não me atrevo a tentar descrevê-las depois de Rui Ângelo Araújo o ter feito no seu romance recentemente editado, Hotel do Norte, com requintes de sensualismo multiestésico.

(Acho que seria mais correcta a palavra «poliestésico», por coerência entre as origens gregas do prefixo «poli» e da palavra «estesia», mas, por um lado, a poliestesia é uma doença humana, por outro lado, a formação das palavras nem sempre segue as regras. Pronto, dá-se um pontapé na gramática, atordoa-se a etimologia e fica-se com multiestesia.)

Nesta composição recorri à frescura do amarelo mimoso para contrastar com as cores escuras dos cogumelos castanhos, cujo nome, infelizmente, desconheço, e dos Trametes versicolores, que encontrei, precisamente, num mimosal.

21 fevereiro 2018

A Laccaria

Os cogumelos pequenos de tons entre o rosa e o bege são do género Laccaria, que conta cerca de 75 espécies. Muito comum em Trás-os-Montes, encontro-os em mimosais, bermas de caminhos, recantos húmidos, sítios abrigados. São-me muito úteis quer como meros figurantes, quer como personagens secundárias, quer como protagonistas, como é o caso dos 14 que entram nesta composição, embora devesse dizer «narrativa» para manter a coerência da terminologia literária com que designo o relevo deste cogumelozinho pequenito, mas acontece que, desde que uma certa personagem (cá está, não consigo escapar ao campo lexical da coisa...) da cena política portuguesa banalizou a palavra e o conceito, que embirro com ela, com a «narrativa». E com a tal personagem, que apesar de caída em desgraça, não se resigna à falta de protagonismo e, de vez em quando, irrompe em cena, qual cogumelo en pleine saison.

19 fevereiro 2018

Medronhos pelo chão

Era o dia de consoada, o terreno estava molhado de chuva recente e enfeitado de Natal com os medronhos que o vento sacudira. De facto, o padrão do tapete de folhas escurecidas e luzidas pelo verniz da água salpicado de vermelho estava muito bonito. Bonito e efémero, pois os frutos, já demasiado maduros, ao ponto de não ser fácil pegar neles sem se desfazerem nas mãos, depressa entram em decomposição. Eram tantos que foi num instante que reuni uns quantos para fazerem de grinalda rematadora aos outros elementos da composição.

17 fevereiro 2018

A proposta inesperada

A artista instagrammer Morgan Elissa mostrou-me interesse em fazer uma pintura de uma composição minha. Respondi-lhe que escolhesse à vontade. Por acaso, escolheu uma das minhas preferidas, que ainda não publiquei aqui, mas que já está no meu Instagram. O resultado foi este e eu gosto. Mas gostar, gostar, gostava de conseguir fazer estas coisas.

Volvopluteus e Carpobrotus

Os três cogumelos grandes com lâminas tonalizadas entre o rosa e o castanho são Volvopluteus gloiocephalus. São relativamente comuns nas bermas das estradas. Se me virdes na estrada mais bonita do mundo, de olhos presos ao chão, não é porque ando desgostosa nem porque fui ver o Douro. O mais certo é andar à caça de algum Volvopluteus ou outro fungo qualquer, que os há lá muitos. Foi de lá que trouxe os desta composição e poder-se-ia dizer que é toda duriense, se não fosse a flor de chorão-da-praia (Carpobrotus edulis — comestível, a polpa do fruto!) que trouxe da beira-mar.

15 fevereiro 2018

Notícias

Este é um dia feliz para a Maria Natura. Cerca das 13 h, um instagrammer divulgador de fotos de fungos pediu autorização para publicar fotos da minha conta; foi-lhe dada, publicou 3. A esta hora, uma tem mais de de 400 likes, outra mais de 500 e outra mais de 600... As mesmas fotos na conta da Maria Natura pouco passam dos 50, mas a visibilidade trouxe em poucas horas mais seguidores do que uma semana inteira... E, entre os novos seguidores, está nem mais nem menos... Jill Bliss, a pioneira destas composições a que ela chama «medleys», cujos trabalhos inspiraram a criação da Maria Natura.

Não sei quando é que eu me cansarei das andanças da Maria Natura, que exigem disponibilidade e a paciência de outras pessoas, mas posso dizer que neste momento há mais de 200 fotos publicáveis e que ainda hoje encontrei muitos cogumelos... :)

Sobre pedras

Não sei se muita gente repara nas pedras da nossa região, fragas de granito que dariam generosas eiras, se calhasse de perto viver gente, lajes de xisto de feitio tão regular que parecem ter sido talhadas por mãos. O tamanho e as formas são merecedores de loas, mas o que me agarra e me demora o olhar são os líquenes. Não vou maçar ninguém (hoje, não) com uma lista de nomes em latim desses incríveis seres vivos; quero apenas chamar a atenção para formas de beleza que, por serem banais e gratuitas, poucas são as pessoas que as apreciam, distraída a larga maioria pelas obrigações da vida-vidinha a que tão pouco se pode fugir.

Ultimamente, tenho tentado integrar os líquenes das rochas em algumas composições. Nesta, com a mancha esverdeada do líquen pareceu-me que conseguiria o efeito de um rasto luminoso, cometário, portanto. Então pareceu-me que o arranjo de fungos e flores vem a descer na direcção do observador. Aliás, até me parece que desceu e já está a subir. Esta sensação é geral ou só minha? Se calhar, no meio desta cogumelagem toda que apanho sem critério quanto à espécie, lá vêm uns exemplares dos que fazem ver coisas. Ou estas suspeitas não se podem publicar aqui, nem sequer confessar às paredes?... Mas eu só me refiro a pedras...

14 fevereiro 2018

(Con)fusões

Uma das particularidades que mais aprecio nos cogumelos e nos líquenes é o facto de lembrarem a fauna e a flora do mar. Nos rios e albufeiras de Trás-os-Montes encontro ervas que parecem algas deixadas pela maré vaza. Nesta composição tentei que essa fusão terra/mar/rio nutrisse a minha nostalgia pelo mar. E não me confundi ao usar a palavra «nutrisse» em vez de «apaziguasse» ou «derimisse» porque considero a nostalgia uma estada da alma (da psique, da mente, como quiserem) não no inferno do exílio, mas num limbo anteparaíso, onde memória e desejo se fundem num caldo de cultura «de outra coisa ainda /e essa coisa é que [pode ser] linda».

13 fevereiro 2018

A cabra

— Então, como vai a vida?

— Bem, obrigada, e a sua?

— Cá ando, co’ elas.

— Quantas tem?

— Agora, poucas, mas já tive tempos de mais de 50.

Pareceu-me que esta abertura de diálogo tão natural com um pastor que me apareceu no cimo do Alvão, onde me encontrava a fazer esta composição, haveria de chegar à pergunta dele sobre o que é que eu estava a fazer. Antecipei-me e adiantei que estava ali a fazer uns arranjos que depois fotografava... Enquanto isto dizia em prosódia suficientemente lenta para me dar tempo de preparar pormenores convincentes da sanidade mental da minha actividade, ele atalhou:

— Ora, está aí na sua vida, a fazer o que lhe apetece, não tenho nada co’ isso.

Ora, aí está um exemplo para muita curioseira gentinha!

Acabada a disposição das folhas rendadas por um fungo com as Laccarias, breves e delicados cogumelos abundantes (parece que comestíveis, mas a tal não me atrevo), feita a fotografia que a registou, afastei-me um pouco à procura doutro cenário para a composição seguinte, bem fornecida de materiais frescos que eu estava. A conversa com o pastor caminhava já pela morte recente da mãe dele, pelo preço do quilo do cabrito para a Páscoa, pelos seus 17 anos de guardador de rebanhos, pelo sol bonito que fazia reluzir a fonte próxima, quando vi que uma cabra comia esta composição, com aquele apetite que dá gosto ver nos bichos. Ele, embaraçado, enxotou-a e atirou-lhe alguns impropérios; eu pensei na utilidade de cogumelos tão pequenos e banais.

Finda a minha função, despedimo-nos com uma exortação dele:

— Venha mais vezes fazer essas coisas bonitas, que eu tomo mais cuidado co’ as cabras.

12 fevereiro 2018

Grata

Não me canso de dizer que gosto muito deste cogumelo lilás (Lepista nuda) que só descobri este ano e que Dezembro e Janeiro vieram provar que não é tão raro em Trás-os-Montes quanto eu julgava antes. Existir esta beleza sem eu nunca me ter apercebido ao longo das décadas que conto como apanhadora de cogumelos dá-me que pensar; tê-la descoberto dá-me razões para ficar grata.

Sendo uma das minhas composições favoritas, escolhi-a para hoje por querer agradecer ao Mário Guerra, no dia do seu aniversário, as simpáticas atenções que dedica a estas publicações.

11 fevereiro 2018

Trametes dos troncos e trâmites da vida

Encontrei estes cogumelos dos troncos, os Trametes versicolores, numa incursão a um mimosal, decidida de súbito, ao passar em viagem. Acontece-me esse impulso sempre que vejo um espaço arborizado sombrio, um terreno abandonado com manta humosa. Ora, sobretudo nestes últimos, quando em espaço urbano, corro o risco de ser considerada uma respigadora de lixeiras. Tendo em conta que a frescura e outros atributos quejandos da juventude já lá vão, creio que para alguns já devo ter dado entrada naquele desvão em que se vão metendo os loucos, os mendigos, os indigentes, os destituídos de juízo ou de outro tipo de fortuna. Quem diria?...

10 fevereiro 2018

Ginkgo biloba IV

Já não vou dizer mais nada sobre a árvore-maravilha que me ofereceu as duas folhas amarelas desta composição. Porque hoje é Sábado, direi apenas que olhando para esta composição me dá a sensação de que os cogumelos estão a repousar. Que descansem em paz, que eu vou fazer o mesmo à minha maneira: fazendo umas composiçõezitas. Vamos ver se sai alguma de jeito, que isto nem todo o dia é dia de produção proveitosa.

09 fevereiro 2018

Déjà vu

Ontem, ao passar de noite “por cima” de uma aldeia galega, reparei que a iluminação tinha um formato parecido com a estrutura desta composição. Se calhar é mais banal do que eu imaginava e terei de aceitar que afinal pouco mais fiz do que seguir uma forma que nos habita há muito. Talvez por não ter grandes ilusões quanto à originalidade, ela não me angustia, embora tente evitar a repetição, o que nesta actividade é um desafio constante.

Aqui foram os ramos inteiramente cobertos de um líquen bonito que me salvaram da queda no déjà vu. O que é que me salvará do mesmo pecado quando me apetecer reutilizá-los?

08 fevereiro 2018

A vagem do aloendro

Os dois cogumelos que se encontram inteiros do lado esquerdo são discretos, mas dos mais bonitos que encontrei. Chamam-se Flammulinas velutipes e aparecem no Inverno. Os que têm tons na banda rosa-roxo são as conhecidas e comuns rússulas. As hastes que usei são vagens de aloendro, esse arbusto comum cujas folhas de alta toxicidade têm maltratado incautos e crentes na ideia de que tudo o que é natural é bom... Reparo muito na flor dele porque permanece durante quase todo o Verão e quem me fez descobrir-lhe o nome foi Natália Correia, no seu poema erótico «Cosmocópula» que desfecha assim:

abro-te as coxas e deixo-te crescer
duro e cheiroso como aloendro.

O Nerium oleander, à semelhança de outras plantas muito comuns, é pluralmente nomeado: oleandro, loendro, loandro, loandro-da-índia, alandro, loureiro-rosa, adelfa, espirradeira, cevadilha ou flor-de-são-josé.

A dureza que refere a poeta pode aplicar-se à vagem.

07 fevereiro 2018

Espalhada

Hoje vai esta composição em cascata para desenjoar de troncos, pedras, tábuas. Assim espalhada pelo solo inclinado abaixo lembra-me uns versos de Alberto Caeiro, do seu poema I, «Eu nunca guardei senão rebanhos», naquela parte em que deseja ser cordeirinho:

Ou ser o rebanho todo
Para andar espalhado por toda a encosta
A ser muita coisa feliz ao mesmo tempo.

E ocorrem-me os sentidos do verbo «espalhar-se», tão distantes da postura sorridente a que quase toda a poesia caeiriana nos convida.

Espalhem alegria, beleza, mas também aquela melancolia que dá sentido à vida, se quiserem. Eu, na qualidade de apanhadora de cogumelos, espalharei esporos por toda a parte (por onde passo, claro). Aqui deve ter ficado uma boa sementeira ou, mais propriamente escrevendo, uma boa esporada.

06 fevereiro 2018

Dias assim

Nem sempre consigo reunir um tronco magnífico, um cogumelo lilás (Lepista nuda) em forma de borboleta, líquenes humedecidos por uns dias de chuva.

05 fevereiro 2018

Folha de ácer

Uma saída bem sucedida é aquela em que levo as mãos vazias, apanho cogumelos e acessórios bem perto do cenário da composição. Não acontece muito, sobretudo porque reutilizo os cogumelos, tendo de andar com eles de um lado para o outro.

Neste caso aconteceu encontrar esta folha de ácer ainda reconhecível como tal, mas já devorada por algum fungo que a deixou quase transparente. Tenho encontrado outras folhas assim e confesso que foi esta actividade que me despertou para essas obras de filigrana da natureza, como hei-de mostrar em composições vindouras.

Achada a folha, tratei de arranjar alguma coisa que rimasse com ela e calhou de encontrar um generoso pedaço de casca de bétula que logo escandi para que a sua métrica não disparatasse demasiado em relação à folha e que ficasse maneirinha dentro do círculo imperfeito do tronco.

Dito assim, parece que submeto as composições à rigidez de um soneto ou outra forma fixa. É verdade que sofro da tentação da simetria, mas corrijo-a quase sempre, às vezes deslocando só uma peça, outras vezes desarranjando um bom segmento, mais raramente desfazendo tudo para refazer. É que quando a imagem começa a parecer feita a régua e esquadro, sinto um calafrio... porque me lembro da estética dos regimes totalitários. Felizmente, não corro o risco da simetria pura e dura porque os materiais que uso escapam, pelo menos a olho nu, a esses rigores inventados pelos humanos para imporem a outros. Madre Natura me livre de tal tortura!

04 fevereiro 2018

As silvas

As silvas, ou silveiras (Rubus fruticosus) são das plantas mais perseguidas, et pour cause: invadem os campos, os caminhos e as casas abandonadas, com uma rapidez e assertividade de blitzkrieg. Enfrentar este exército invasor exige equipamento de defesa especial, altas doses de determinação e artilharia pesada, roçadeira ou tractor, seguidos de queima e, mesmo assim, passados uns mesitos lá estão elas, já viçosas, já impantes, a gozar a nossa derrota iminente.

Acontece, porém, que também têm os seus préstimos: fazem-se bonitos cestos dos ramos, dão amoras deliciosas, proporcionam habitats ideais para várias espécies de cogumelos e dão folhas que, desde o Outono até à Primavera, passam do verde ao vermelho arroxeado.

As duas que usei nesta composição tinham os matizes de fim de Outubro.

03 fevereiro 2018

Eucaliptos I

As tragédias do passado ano florestal tiveram no eucalipto um culpado de peso e medida. Uma febre repentina — e efémera — queimou o papel de outros culpados. Agora, parece que se o ardor contra os eucaliptos não se apagou, arrefeceu muito. Mas houve gente daquela espécie rara que faz coincidir a prática com a teoria. Espero que sigam no caminho da coerência e que bem perto dos restos mortais dos eucaliptos, como este magnífico tronco, plantem as tais espécies autóctones, menos combustíveis.

E porque me custa que as árvores sejam amaldiçoadas sem relativização, hei-de voltar a esta.

02 fevereiro 2018

Maria Natura termina receita de Madre Natura

Maria Natura reuniu 4 cabeças de cogumelos frescos, 1 pequenino inteiro já quase passado, 1 em forma de copo chamado Peziza repanda, e juntou a 3+4 folhas de umbigo-de-vénus, 2 tipos de musgo e 1 de líquen (Cladonia rangiferina), mistura previamente preparada por Madre Natura num muro. Por fim, numa concha de mexilhão-do-rio, aninhou um tesourinho de 1 cacho de flores de medronheiro, 2 pontas de urze florida, 1 crescendo de pinheiro bravo. Fotografou o assim posto e disposto para o postar, aqui ou em outro lugar.

01 fevereiro 2018

Olhar para as pedras

O meu interesse em cenários para as composições leva-me a varrer o chão com os olhos em busca de um belo pedaço uniforme de musgo, um tronco jeitoso, uma tábua com patine interessante, pedras com manchas ou líquenes (se não estou a referir a mesma coisa duas vezes...). Felizmente, Trás-os-Montes tem variedade biológica e geológica bastante. Neste estudo para um bordado, serviu-me uma laje de xisto.