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31 janeiro 2018

Ginkgo biloba III

Ansiosa por que rebentem as folhas da ginkgo para ver o efeito delas verdes numa composição. Entretanto, aqui vai mais uma delas bem passadas pelo Outono.

30 janeiro 2018

Musgos

A procura de todo o tipo de cogumelos tem-me aberto muito os olhos para o mundo dos seres que vivem rente ao chão. Refiro-me aos líquenes e aos musgos. É incrível e encantador verificar a variedade de espécies e as reacções de cada uma às alterações meteorológicas. Isto permitiu-me achar mais um interesse no tempo chuvoso: observar a exuberância das formas e cores dos líquenes, o verdor e o veludo dos musgos.

Esta composição foi feita nesse lugar mágico que é a albufeira do Azibo, cujo perímetro merece ser percorrido por vários motivos, entre os quais sobressai a espantosa biodiversidade que abriga.

29 janeiro 2018

Três notinhas apenas

1. Bem gostava de saber o nome destes três cogumelos brancos de lâminas muito abertas, mas ainda não o consegui descobrir.

2. A bolinha cinzenta também é um cogumelo, uma bufa-de-lobo, puffball, em inglês.

3. Em baixo, à esquerda, outro fungo estranho, um tipo de Ramaria.

28 janeiro 2018

Rússula

Estes cogumelos entre o cor-de-rosa e o roxo existem em abundância em Trás-os-Montes. Acho-os nas florestas de pinheiros, quase enterrados, com a cabeça a levantar o solo, como se espreitassem o andar do mundo. Apanho-os muito cobertos de terra, que não sai com facilidade. Não distingo a Russula artropurpurea da rosea nem de muitos outros elementos desta grande família. Alguns são comestíveis, mas isso não consta da minha tábua de preocupações. Apanho-os porque os acho muito bonitos e encontrar um causa-me a mesma alegria que encontrar um Amanitas muscaria ou uma Lepista nuda, espécies que irmanam esta na extravagância das cores. O nome «rússula» lembra-me o antropónimo «Ursula», Ursula Andress. E ter a capacidade de evocar a beleza já me parece feito digno de nota.

27 janeiro 2018

Tangerinas

A chuva despertou as sementes e é um regalo estender os olhos sobre os mantos e os tufos de pequenas ervas que rebentam por todo o lado: nos recantos mais escusos, nas frinchas mais delgadas. Bem perto desta valeta atapetada de verde, havia uma tangerineira. Perguntei-lhe se ela queria participar na composição e ela logo agitou os ramos, creio que de contente, e deixou cair estes dois frutos. Traziam aquele aroma fresquíssimo et très exquis que lhes é característico quando são boas. Evoquei alguns versos do poema do Eugénio de Andrade

fruto que me fascina,
pelo sabor, pela cor,
pelo aroma das sílabas
tangerina, tangerina

lembrei-me da cidade que as nomeou, Tânger, e das aventuras que lá vivi, daqui fui parar a outros lugares do mundo onde também fui aventurada, voltei à tangerina, mas através do gelado, que é o meu favorito acompanhamento do fondant au chocolat, daqui lembrei-me de que já não preparo esta sobremesa há muito tempo e de como o tempo passa depressa... olhei a paisagem do vale do Corgo (que merecia figurar aqui ao lado), fiquei sem respiração, senti-me afortunada, inspirei profundamente, fui atingida nas narinas pelo cheiro das tangerinas e comi-as, sem mais delongas, que isto de um pequeno fruto nos pôr a cabeça a girar à volta do mundo até ir dar a cogitações sobre a existência pode ser obra de insondáveis desígnios, mas comê-lo é o que faz mais sentido. E, ah, como gosto da vida com sentido! E com sabor.

26 janeiro 2018

Unicórnio

Sempre gostei de cornos. De cornos e de chifres, que são distintos. Refiro-me aos verdadeiros, biológicos, grandes, de preferência, essa espécie de coroa caprichosa talhada pela madre natura e distribuída por alguns quadrúpedes mamíferos. Onde estaria a graça de um antílope indiano sem os seus magníficos cornos retorcidos? E a majestade de um búfalo acórnio? Um veado ou um alce é muito mais belo com a prodigiosa armação craniana no apogeu; um rinoceronte descornado é uma figura trágica; um boi barrosão sem hastes amplas perderia a aura de divindade antiga. Um mundo sem pares de cornos é tão desolador como um jardim sem flores e os unicórnios fazem falta às utopias inofensivas.

Foi com grande alegria que achei este corno de carneiro e esta não foi a única composição em que o integrei, que há que fazer render o peixe, digo, o corno.

25 janeiro 2018

Ambiguidade

Do que visualmente mais aprecio nos cogumelos é da ambiguidade. Ora me lembram flores, ora me parecem seres vivos marítimos — corais, anémonas, conchas de ouriços ou de amêijoas. Talvez por isso é que são muito versáteis e suportam tanto a conjugação com elementos da flora como da fauna, como do mundo mineral, tanto da serra como do jardim, do rio, do mar. Imagino que àqueles a quem nauseia a ambiguidade, porque é terreno indefinido, inseguro, lhe seja vedado o gozo de um jardim tão fértil de possibilidades.

Ocorreu-me escrever sobre este tema, não por causa dos cogumelos desta composição, mas por causa do tronco em que se encontram quase embutidos. Não lembra a pele de um elefante?

24 janeiro 2018

Flores

Esta composição leva flores, um dos meus elementos preferidos. Alguns cogumelos já lembram flores, sobretudo quando invertidos e sobrepostos, mas as verdadeiras acrescentam colorido e frescura ao conjunto. Às vezes também causam surpresa.

Antes da estação florida, imagino já o que poderei fazer com tanta abundância como a que temos em Trás-os-Montes, que demora a florir, em relação ao Algarve, por exemplo, mas quando flore, flore a sério.

Estas são de jardim, mas na Primavera conto usar muitas silvestres. Assim haja cogumelos...

22 janeiro 2018

Dúvidas

Quanto mais ando... mais me confundo. Não tenho a certeza se este fungo verde que cresce nos troncos em putrefacção é uma variedade de turkey tail, o Trametes gibbosa. Estas dúvidas são dores de uma doença chamada autodidactismo. Mesmo com elas, atrevo-me a publicar a fotografia desta composição que resolvi fazer, mal avistei este tesouro. A menos de 20 metros havia mais. Há lugares assim. E não são poucos, em Trás-os-Montes.

21 janeiro 2018

Números para uma lápide

Aqui jazem mais de 20 cogumelos, 5 cálices de sementes de roseira, bagas de uma árvore encontrada numa rua periférica da cidade (Ficus pertusa?), 3 rebentos de folhas de carvalho, 2 pernadas de uma suculenta colhida num muro musgado, tudo sacrificado às fantasias de Maria Natura, num dia de chuva impiedosa do mês primeiro do ano da graça de 2018.

20 janeiro 2018

Ginkgo biloba II

Feita em pleno Outono, esta composição leva folhas da prodigiosa árvore de nome exótico, Ginkgo biloba. Não foi a última vez que as usei, tais são as possibilidades da forma em leque e do tom de amarelo. Com este efeito de folhos («babados», para os brasileiros...), posso considerar que foi um ensaio para uma aplicação nalgum vestido estival, tendência recorrente na moda.

19 janeiro 2018

«Para que serve?»

Desde que encontrei este fundo, cujo verde geado é de um musgo que não voltei a ver, até dar por concluída a composição, passaram menos de 10 minutos, tempo em que encontrei os cogumelos, escolhi os fetos e os outros dois elementos. Com esta rapidez, só podia sair simples. Guardei-a para quando me apetecesse desenjoar de excessos ou jejuar com o objectivo de aguçar o apetite para banquetes vindouros. Com estas metáforas do campo semântico da comezaina não se pense que eu manduco os cogumelos que uso nas composições. Se o fizesse, não passaria da primeira ou das primeiras, dada a toxicidade de muitos deles. Apanho-os apenas para uso decorativo. E se sublinhei o advérbio de exclusão, foi porque já me vi obrigada a fazê-lo perante os raros curiosos que chegam à palavra comigo quando estou em acção compositora. Não entende a mundanal gente que haja outro uso para os cogumelos para além da mesa. E logo a seguir não entendem uma actividade que apenas serve para fazer uma série rápida de fotografias. «Esse trabalho todo só para fotografar e desfazer tudo outra vez?! Ora...» E eu, convencida de que as coisas bonitas valem o trabalho que dão, mostro uma ou duas fotos, mas mesmo quando o meu interlocutor manifesta apreço por elas, isso não é suficiente para lhe remover, lá do fundo de si, aquele valor arreigado desde que começou a mamar, muito antes da idade de poder comer cogumelos, portanto, que é o da utilidade pura e dura. O que se destina simplesmente ao gozo dos olhos entra logo numa zona suspeita, um bairro da cidade sisuda onde a vida gira em torno da pergunta «Para que serve?»

Assim excluídos do lado ludens da vida, não admira que seja tão fácil torná-los escravos.

18 janeiro 2018

Biodiversidade

A nossa região é mesmo privilegiada no que diz respeito à biodiversidade, a julgar pela variedade de espécies de cogumelos que encontro. Há lugares em que, em menos de uma hora, se encontram mais de dez espécies. Nesta composição, reuni onze. Aquela coisa que parece uma flor aberta com um furinho no meio também é um cogumelo, do género Geastrum (segundo a Wikipédia), abundante no Azibo. As “bagas” são um medronho, sementes de roseira e umas azeitonas que por ali estavam, esquecidas ou rejeitadas na última safra.

17 janeiro 2018

Anseios

Acho que estes cogumelos (os frades) têm tanta beleza e utilidade que é estranho não ouvir as pessoas dizerem: «gostaria de ser tão bonito como uma Macrolepiota procera»... Uns poderiam acrescentar «em roca» e outros «em chapéu aberto». Bem poderiam ensinar estas frases às criancinhas. Sempre pareceriam menos insípidas quando lhes perguntam o que querem ser quando forem grandes. Daria uma alternativa à resposta batida até à exaustão pela colherzinha dos progenitores: «quero ser médico/a», ou às saídas mais genuínas: «eu, bombeiro», «eu, polícia», «bailarina».

A composição também leva bagas do arbusto Viburnum tinus, cuja maior surpresa é a de serem metalizadas.

Foi um regresso às Macrolepiotas proceras e às bagas. Não será o último.

16 janeiro 2018

Frustração

Bem sei que a frustração faz parte da vida e sei muito bem que esta não é a maior que vivi nem das grandes que me esperam.

Um dos prazeres maiores desta actividade é, sem dúvida, o de encontrar os cogumelos. Suspeito que este prazer seja uma resposta a necessidades ancestrais soterradas nas camadas dos interesses urbanos que nos ocupam a mente.

Umas vezes aparecem de surpresa, quase debaixo dos pés, outras avisto-os ao longe e lá vou eu, Maria Muito Contente, examiná-lo para decidir se o (es)colho ou não. Acontece, porém — e a frustração chega agora — que, estando os montes pejados de lixo, não é raro avistar qualquer coisa vermelha, ficar com o coração aos pulos e, ao perto, descobrir uma lata de Coca-Cola. Então a súbita decepção dá lugar ao espanto: como é que aquilo foi ali parar, nicho tão recôndito, clareira tão entranhada na floresta?! O pior não é confundir o belo Amanitas muscaria, como os que entram nesta composição, com as latas da referida beberagem popular; o pior é a variedade e a quantidade de despojos que a vida urbana lança para a natureza. Não vou fazer rol desses objectos («abjectos» deveria dizer-se) miúdos para poupar a paciência de quem lê, mas impõe-se que esboce o dos graúdos. Começando pelos clássicos, lá se encontram os frigoríficos, as televisões, as máquinas de lavar roupa, os colchões, os sofás; já entre os modernos, sobressaem os computadores.

E como já vai longo este post, adio outros desenvolvimentos do mesmo assunto para próxima oportunidade, não sem antes relacionar o já dito com a presente composição, que é apenas isto: gostaria muito de conseguir integrar alguns desses objectos nestes assemblages. Já tentei e o resultado foi desastrado até ao grotesco. É, de facto, tarefa para talento que não me assiste transformar o lixo em beleza. Mas ainda não desisti de o tentar. Se algum dia o conseguir, talvez as flores de alho, a pinha e a pena que aqui entram venham a ser substituídas, em futuras composições, por caricas, sacos de plástico, copos de iogurte, latas de salsichas, just to name a few...

15 janeiro 2018

As bagas

Entre as maravilhas do Outono, encontram-se, para os apreciadores, naturalmente, os cogumelos, a policromia das folhas das árvores, mas também a variedade de bagas.

Na mesma sebe, cheguei a ver uma sequência de três espécies. Nesta composição usei a do arbusto Cotoneaster horizontalis, sobre a direita e outra que surripiei de uma árvore num jardim público, em Mogadouro, e cuja identidade desconheço. Se alguém souber, agradeço que ma ensine.

Os líquenes da base lá estão no chão em que os encontrei em finais de Outubro, mas agora estão espessos, viçosos, bem medrados pela chuva. Até dá vontade de ser rena para fazer umas festinhas ao palato com eles.

14 janeiro 2018

Folhas velhas de castanheiro

Quando não as matam os machados e as serras eléctricas dos humanos, nem a força do vento nem o peso da neve, as árvores morrem de pé e assim ficam durante muito tempo, cadáveres a servir a vida, oferecendo os troncos a pássaros, insectos, líquenes e fungos. Também as folhas continuam úteis bastante tempo para além da morte delas. E mesmo decrépitas, esburacadas, reduzidas a películas transparentes, povoadas de microfungos ainda são apresentáveis em composições decorativas. Foi o que pensei ao escolher estas de castanheiro na manta folhosa, consciente de que reforçariam o parentesco da composição com a arte povera.

13 janeiro 2018

O liquidâmbar

Há demasiados humanos a tratarem muito mal as árvores, mas há também os que as adoram. Entre estes esteve, certamente, quem as nomeou. Já aqui referi a glória do nome «Gingko biloba», agora é a vez do liquidâmbar. Que sílabas, que surpreendente justaposição de «líquido» a «âmbar»! É, sem dúvida, uma responsável de peso na beleza dos nossos outonos.

Enquanto as houve, as folhas desta árvore eram presença quase constante na cesta de acessórios, mas não foi fácil utilizá-las. Foram bastantes as composições que fiz e desfiz, sem as refazer, em que tentava incluí-las. Eram como James Dean, Marilyn Monroe, Gérard Depardieu: imediatamente, roubavam a cena aos actores principais.

Nesta composição, parece-me que os cogumelos sobreviveram ao apagamento das folhas exuberantes e que conseguiram o papel de co-protagonistas. Mas olhando-a de longe, esta percepção começa a vacilar...

12 janeiro 2018

Composição com vista sobre... a albufeira

Um destes dias, publico um pré ou um pós-post videográfico com as vistas dos lugares onde encontro a matéria-prima das composições e verão que é um trio de prazeres: a caminhada, o achamento dos cogumelos e as paisagens.

Este tronco é um dos muitos que ficaram descobertos pela seca, na albufeira do Azibo. Estava à beirinha da água e tinha uma altura suficiente para não precisar de me debruçar. Enfim, parecia estar mesmo à minha espera.

11 janeiro 2018

«Fostes aos roquelhos?»

Frades, rocas, roquelhos, gasalhos, santieiros, choteiros, tortulhos — eis alguns dos nomes comuns da Macrolepiota procera, o cogumelo comestível de sabor e aroma únicos. Antes de fazer uma arrozada com este quinteto, deixei-os ensaiar figuras com alguns acessórios da época. Aqui, reuniram com figos de Opuntia, folhas de pessegueiro, de castanheiro e de hortênsia em início de outonação e folhas de trevo roxo.

10 janeiro 2018

Rabiga, Michelino ou Golemito

Esta é mais uma das composições cuja fotografia revela formas involuntárias. De facto, quando a fiz, não me ocorreu a possibilidade de a coisa vir a parecer o que me parece agora: ou uma irmã da formiga Rabiga de grande barriga, ou um filho do homem da Michelin, um michelino, ou uma versão simpática do Golem.

09 janeiro 2018

Líquenes

Uma paixão pode levar a outra sem extinguir a primeira? Não me parece ser regra aplicável a todo o tipo de paixões, mas neste caso foi. Refiro-me ao interesse pelos líquenes que me chegou via fungos. É um micromundo maravilhoso, onde diferentes espécies coabitam lado a lado, encavalitadas, entrelaçadas, não sei em que tipo de relações, se de simbiose, se de parasitismo, se de competição.

Ao ver estes exemplares de uma variedade de Cladonia dispostos em cascata, não resisti a fazer uma composição ali mesmo, integrando-os.

Pensando melhor, para ser rigorosa, os cogumelos levaram-me também ao interesse pelos musgos. A eles me referirei nalgum post futuro. É caso para dizer «não há duas sem três», expressão bem pouco racional, pois o que não há é «três sem dois».

07 janeiro 2018

Visto do avesso

Depois dos excessos das festas, uma composição simples.

A silhueta de cometa serve para lembrar que tudo passa: passaram os fetos, passaram as folhas das bétulas, passaram os Amanitas muscarias, passamos nós, passará o Facebook e até «o planeta girante em que tudo isto se deu» passará.

A parte boa desta lei implacável é que também as coisas más passam.

06 janeiro 2018

Ouro, incenso, mirra... e veneno

Escolhi esta composição para o dia de Reis por me parecer que os dois cogumelos maiores que nela entram têm o seu quê de régio.

O vermelho é o popular Amanitas muscaria, com a particularidade de este exemplar ser bastante grande porque são dois em um, ligados um ao outro como se fossem siameses. O que está sobre ele e que lembra um frade não o é. Na verdade, é um falso frade, Macrolepiota como o verdadeiro, mas venenata, em vez de procera como aquele. Por se confundir com alguma facilidade, tem levado incautos aos bancos dos hospitais a garantir que só comeram frades... Eu própria, grande apreciadora de Macrolepiotas proceras, só este ano soube destas semelhanças. Uma pesquisa criteriosa no Google bastou-me para perceber os perigos e as diferenças. Assim, espero que este post sirva de alerta para os desprevenidos comedores de frades.

Uso o cogumelo aqui, não para esconjurar os receios da confusão, mas porque o acho bonito e fica catita a cavalo do muscaria. Os outros pequenos são os peões destes dois senhores e, todos juntos, estou certa de que dariam um poderoso exército armado de toxinas, algumas delas letais.

05 janeiro 2018

A flor do alho

Não, não é de flor de sal que se trata, esse ingrediente constante nas ementas gourmet.

Só reparei nas potencialidades desta flor no Verão passado. Googlei o nome e, passados uns dias, começaram a nascer anúncios à flor do alho na banda lateral do Facebook. Sempre que isto me acontece, fico um pouco cismática, por sentir que the Big Brother is watching me...

Uma das novidades que colhi foi a de que a flor do alho é um dos últimos gritos no mundo da Haute Décoration. Quem diria que o rústico alho subiria a tais píncaros?

Usei-a nesta composição por me parecer que acrescentaria uma certa leveza que contrabalançasse o volume dos dois grandes Fomitopsis betulina, espécie que se encontra nos troncos dos vidoeiros mortos, normalmente partidos pelas tempestades, e cuja parte inferior chegou a ser usada como afiador de navalhas de barbear!

O mundo dos cogumelos tem mesmo muita história.

Para os mais descuidados, a flor do alho é aquele raminho com muitos pontos brancos que se encontra à direita.

04 janeiro 2018

Ginkgo biloba I

Esta composição não tem nenhum cogumelo assinalável, se descontarmos o figurão que fazem os Amanitas muscaria sempre que aparecem. Mas tem folhas dessa árvore de nome fantástico, o Ginkgo biloba. Verdes ou amarelecidas pelo Outono, têm uma delicadeza e elegância de bailarinas ou de certos rituais do Oriente, longitude donde provém. Como se não bastasse possuir estas folhas em leque e um nome extravagante, o Gingko é bom e interessante, literária e historicamente. Parece que é bom para a saúde pelas virtudes terapêuticas, embora sobre isto ainda corra discussão científica, é tão antigo que é considerado um fóssil vivo, já foi considerado extinto, mas afinal ainda existia algures na China, conseguiu renascer após os bombardeamentos atómicos no Japão, serviu de motivo poético ao grande Goethe. Não é todos os dias nem em qualquer canto que aparece um ser vivo que conte feitos tão insignes, senhor Ginkgo! Em tempos de campanhas de replantação do país — ou já acabaram?... — seria boa ideia espalhar umas quantas pelos jardins e parques públicos, ou só podem ser espécies autóctones?

03 janeiro 2018

Água abaixo

Depois de uma seca tão preocupante, com menos de duas semanas de chuva, já ouço vozes de cansaço da essencial, fundamental, absolutamente necessária água que cai das nuvens. Confesso que tenho de fazer um esforço para conter o que me apetece dizer a tais pessoas; fico-me por considerá-las ignorantes ou inconscientes. Para quem anda nos montes, facilmente constata que a chuva que caiu nos últimos dias é manifestamente insuficiente. Para que se possa ficar com uma ideia de tal exiguidade, aqui vai o que aconteceu nos dias subsequentes à tempestade Ana: no dia seguinte, os ribeiros saltavam fora dos regos, da ingurgitação repentina, mas, ainda não era passada uma semana, e já o anterior volume perdia o furor inundante; em menos de quinze dias, ou já corriam inaudíveis, ou tinham secado de todo... É assim a terra, gentes de mente urbana e de sentido nulo das necessidades básicas da vida. Depois de muito tempo sem água, fica uma esponja, some o vital elemento em poucos dias, mesmo que tenha ficado ensopada por umas horas, e depressa clama por mais. Portanto, deixem cair a chuva, de mansinho, para não causar estragos e, quando estiverem fartos dela, tentem sorrir. Se não conseguirem, pelo menos disfarcem, para não estragarem a ecologia que trazem na lapela. Se se quiserem corrigir, treinem este dito do povo, tantas vezes vão, mas muito entendido a respeito da chuva: «S. Domingos, água abaixo!»

Este arrazoado moralistóide sobre a água (o)correu-me ao escolher esta composição em que se me afigura uma embarcação alagadiça.

Continuação de Boas Festas, que até aos Reis, flutuamos nelas.

01 janeiro 2018

Ano Novo

Quem se lembra destes versos de Eugénio de Castro, que hoje me bailaram todo o dia na memória?

Hoje, dia d’Ano Bom,
Foi o jantar melhorado:
Canja d’oiro, cabidela
E um rico leitão assado.
[...]
Além dessas vitualhas,
Outras mais o olhar divisa:
Mexilhões frescos d’Aveiro
E um paio, róseo, de Nisa;

Sobremesas são às dúzias,
Na mesa, ao pé da floreira:
Manjar branco, ovos de fio,
E uma “barriga-de-freira”.
[...]

Creio que o «jantar» mencionado no texto é o nosso actual almoço. Até aos anos 80, os rurais mais velhos designavam assim as refeições do dia, por ordem cronológica: mata-bicho, almoço (cerca das 10 h da manhã), jantar, merenda, ceia.

Serve este inédito intróito para assinalar a continuação dos excessos gastronómicos da quadra. Já a composição do dia não tem ar de ir à mesa, mas tem algo de excessivo: o cogumelo que a protagoniza é dos mais belos que já vi, é usado como coadjuvante no tratamento quimioterapêutico de alguns cancros, tem 3 nomes em Latim (Trametes versicolor, Polyporo versicolor e Coriolus versicolor). Em inglês, o nome vulgar é o apropriado «turkey tail»; em português, não lhe descortinei nenhum. Se alguém souber, faça-me o favor de mo ensinar. Enquanto isso não acontece, chamo-lhe «vestido de sevilhana». Olé, 2018!