Links

Siga-me: Instagram  |  Facebook
Diga-me: E-mail

30 abril 2018

Dias de sorte

Há dias de sorte. Foi o que me aconteceu há duas semanas, quando voltei a Mogadouro para um passeio micológico organizado pela associação «Pantorra». A sorte não foi, como se pode esperar depois deste intróito, ter encontrado muitas Morchelas, o nome científico da pantorra. Na verdade, só foram encontradas umas sete, creio. A sorte foi terem-me sido oferecidos os dois tesouros que entram nesta composição: as belas penas de algum pobre gaio e a dúzia de Lentinus arcularius, estes cogumelos de tronco com “lâminas” que parecem favos. Mas quem encontrou tudo o que é mencionado neste post — pantorras, penas raiadas de azul turquesa, fungos magníficos e raros — foi o meu companheiro de andanças marianaturais, portanto, o dia de sorte maior foi dele.

29 abril 2018

Croissant de cogumelos

Vai um croissant de cogumelos com cobertura de flores de Ranunculus e recheio transbordante de frutos secos de liquidâmbar com ervas finas de berma de linha férrea?

Admitam lá que a descrição lembra certas cartas de restaurantes verdadeiramente gourmet ou apenas armados ao pingarelho...

28 abril 2018

Verpas

Assinalamos as coincidências, passam-nos ao lado as incoincidências e até as quase-coincidências. Uma das primeiras aconteceu-me com estes dois cogumelos de pé cor de cera e cabeça castanha e irregular. Nunca ouvira nem lera a palavra «Verpa», até ao dia em que me apareceu como o nome de uma das espécies que se confundem com as tão procuradas Morchelas, pantorras, em português. Atentei nos traços distintivos de cada uma e no dia seguinte fui a Verín, onde, junto ao rio, deparei com estes dois cogumelos em tudo coincidentes com a descrição lida na noite anterior sobre o género das Verpas. Foi positivo ter encontrado exemplares para comparar com as verdadeiras Morchelas. Parece-me que só as confundirá um apanhador de cogumelos tão ignorante ou distraído quanto inconsciente. Há espécies bastante mais semelhantes entre si, como por exemplo, a Macrolepiota venenata e a procera, nomes do falso e do verdadeiro frade, respectivamente.

27 abril 2018

Depois das tempestades

Fiz esta composição há pouco mais de uma semana, tirando partido dos frutos do período longo de chuvas. Foi com agradável surpresa que aprendi que estes cogumelos lilases (Lepistas nudas) também aparecem na Primavera. A moldura de cascas de pinheiro cobertas de líquenes fi-la com destroços das tempestades de Março que, como sabemos, não arrancaram apenas cascas das árvores, arrancaram as próprias árvores e, sobretudo, partiram-nas, decapitaram-nas, cirando os cenários apocalípticos em que se encontram os nossos bosques e florestas. Que coisa!

26 abril 2018

Medronheiro em folha

As incursões na natureza têm-me levado a apreciar espécies a que fui quase indiferente durante anos. O ciclo anual do medronheiro tem fases que merecem atenção. No Outono/Inverno são os frutos com aquelas cores maravilhosas; em Dezembro dá flor, um belo pequeno cacho de sininhos brancos; agora, com os frutos já a despontar, as folhas caídas há algum tempo exibem estes padrões. Gosto tanto delas que tenho de me controlar para não as incluir mais nas composições. Aqui casei-as, em regime de separação de espaço, com os rebentos desta flor que encontro em grandes colónias na linha do Corgo e num carvalhal no Marão. Alguém sabe de que espécie se trata? Parece uma orquídea, mas não arranjo modo de o confirmar.

25 abril 2018

Dar ar aos brutamontes

Os cogumelos quase acabaram, mas para além de centenas de fotografias que constam do acervo inédito, há o recurso a estes cogumelos poliporos, que resistem muito para além das chuvas e até mais do que os próprios troncos em que crescem.

Encontrei estes dois figurões no fim-de-semana passado, no Marão. Creio que a razão por que gosto deles é o facto de me parecerem certas conchas enormes relativamente disformes. Concha puxa concha e foi assim que me ocorreu juntá-los com outras. A escolha recaiu sobre os anéis de lapa para fazerem de bolhinhas de ar, que estes brutamontes precisam de respirar, coitados...

Enfim, são magníficos exemplares de Fomitopsis betulina, que aparecem agarrados aos troncos mortos mas ainda de pé das bétulas. Pelo desastre em que, nas redondezas, se encontram os bosques destas árvores belíssimas, vítimas dos ventos gelados de março (pela devastação que causaram, seria mais próprio dizer «ventos marciais»), daqui a uns anitos haverá muitos. E como duram anos, depois de colhidos, hão-de ser vistos por aqui muitas mais vezes.

24 abril 2018

Heresia em dias de sol

Esta composição foi feita recentemente e isso nota-se bem numa relativa escassez de cogumelos e nas flores que julgo serem exemplares de uma variedade de Hyacinthoides, segundo informação da página muito útil, Flora-On.

O solzinho e as temperaturas estivais são muito aprazíveis aos humanos, mas fatais para os fungos. Pode ser que as temperaturas mais baixas e a chuva previstas para a próxima semana tragam melhores dias aos cogumelos.

Estou consciente de que a última frase, por lembrar a possibilidade da chuva e por não ocultar desejos próprios de uma apreciadora dos prazeres de ambientes húmidos, fica carregada de um conteúdo herético. Mas não a retiro.

23 abril 2018

«E antes magnólias amo»

Mais uma composição feita num banco do Parque Florestal, desta vez com pétalas caídas da magnólia florida que está no jardim em frente.

O título é retirado do conhecido poema de Ricardo Reis:

Prefiro rosas, meu amor, à pátria
E antes magnólias amo
Que a glória e a virtude.

Para manifestar desinteresse pelos compromissos sociais, que dão muito trabalho e complicações, e afirmar a preferência pelos prazeres da «aurea mediocritas», Reis não recorre a flores modestas, como a margarida, ou a flores silvestres comuns, como o ranúnculo ou a flor da leituga; recorre à elegante rosa e à aristocrática magnólia. É uma opção concordante com a sua postura clássica, embora suspeite que tenha sido mais porque dizer «rosa» em poesia é convocar séculos de literatura universal e a palavra «magnólia» enche a boca de qualquer poeta. Tenho alguma dificuldade em optar por uma ou até meia dúzia de flores. Mas que as magnólias estão no meu top ten, lá isso estão.

22 abril 2018

Menu do dia

— Para mim pode ser um líquen com cogumelo, na pedra.

— Bem, mal passado, como prefere?

— Bem passadinho. E do cogumelo, só a cabeça, bem cortada.

— Com certeza.

— Quanto tempo?

— O líquen está pronto, é só cortar o cogumelo.

— Então pode trazer já.

— Num minuto.

21 abril 2018

Aparências

Nesta composição as flores sobrepõem-se claramente aos fungos, mas a Maria Natura não é muita dada a interesses exclusivos se forem estreitamente específicos.

Estes foram os achados de um passeio por prados e bosques numa recente manhã de sol esplendoroso. Os narcisos parecem de cultivo e o desenho lembra uma menorah, mas as flores são silvestres e não foi intenção minha representar o símbolo judaico. Se alguém persistir em ver nele o que lá não está, então que o veja como respeitosa homenagem a um povo admirável.

20 abril 2018

Rapa-fundos

Parece-me que o ânimo limpador de zonas arborizadas se manifestou de modo radical nalguns lugares, mas talvez esta minha sensação seja fruto do atrevimento que tenho como ignorante nas ciências florestais... Seria necessário rapar o chão do parque florestal, arrancando heras, ervas, flores e cogumelos, como fez a hoste que por lá anda armada de maquinaria ruidosa e alfaias tradicionais certamente a mando de peritos engenheiros?

Felizmente que, uns dias antes deste ataque à flora do solo do parque, tinha apanhado os cogumelos castanho-arroxeados que entram nesta composição e cujo nome ainda ando a tentar descobrir.

19 abril 2018

A idade da pedra

Esta composição foi feita sobre o assento de um banco que está no parque florestal da cidade. A julgar pelos líquenes que crescem na madeira, não deve ter muito uso. De facto, não há muita gente que vá ao parque para estar lá, para se sentar, andar pelos caminhos em ritmo de passeio. O Parque Florestal é usado como caminho para a outro lado da cidade ou em modo jogging de passagem para o Parque Corgo. São raríssimos os que vão ler, estudar, namorar, passear os filhos, bebés ou mais crescidos, como já vi noutras cidades, noutros países.

Quando escolhi este lugar para a composição, havia dois adolescentes do sexo masculino por perto. Concentrada na disposição dos elementos, fui despertada por uma rajada de palavrões seguida de apedrejamento do reservatório de água — tina, fonte, bacia? — Tolerei as primeiras pedradas invocando reservas de paciência à estupidez da idade, armazenadas durante vinte anos de docência, mas quando os calhaus aumentaram consideravelmente de tamanho, para, segundo a expressa teoria da palermice prática, matarem os peixes, intervim. Encolheram-se incomodados e dali a menos de um minuto, já afastados, repetiram o fraseado obsceno, atirando-mo como pedras pesadas, enquanto fugiam. Não sei se já tinha sido tão insultada na minha vida, mas naquela atmosfera de agressividade, cheguei a temer que a última pedra fosse para mim.

Apedrejar a água para matar peixes é não só muita tolice; é também malvadez gratuita, pura, perturbante. Oxalá lhes passe com a idade e um dia, ao passarem por ali com um livro, com a namorada, com um filho pequeno, a recordação deste incidente lhes incomode a memória. Porém, o mais certo é não usarem o parque nem para namorar; o mais certo é nunca mais se lembrarem da velha que lhes cortou a cena da pesca paleolítica. E para isso bastará que sigam as pegadas da maioria.

18 abril 2018

Tempo

Da série “Nocturnos”, criada em dias em que não se pode sair de casa: por falta de tempo ou por causa do tempo.

17 abril 2018

Bordado a ponto-de-fungo

Há encontros assim: anda uma alma buscadora de cogumelos às voltas e avista um tronco. Instruída por essa «madre das cousas» que é a mestra experiência, sabe que não deve passar por ele como cão por vinha vindimada, mas que deve verificá-lo, ainda que o lugar em que se encontra seja de dificultoso alcance, a requerer competência alpínica ou extremos cuidados na descida incerta. No caso vertente, esta prosa é puro devaneio em que cai quem — não tropecem nesta aliteração algo cacofónica — gosta tanto de palavras como de apanhar cogumelos... É que este tronco estava bem à mão, e ao pé, dos passantes. Perante uma orla assim bordada a ponto-de-fungo, não foi preciso muito mais do que enquadrar os cogumelos que trazia na cesta e umas flores de leituga que por ali pontuavam o chão de amarelo luminoso.

16 abril 2018

Rosa-de-fungos

Eu bem avisei que estes cogumelos iam aparecer aqui várias vezes, pois, entusiasmada com o achado, incluí-os em várias composições, quer usando-os como protagonistas, quer como personagens secundárias. Não sabia então que secos continuam utilizáveis, portanto, afinal, hão-de aqui aparecer ainda mais vezes do que eu pensava inicialmente. Esta rosa-de-fungos, nova espécie, foi criada sobre uma pedra do Alvão revestida a líquenes. E como hoje esses líquenes devem estar bem bonitos, é para lá que vou de imediato.

15 abril 2018

Quatro notas

Os dois elementos que parecem pedras no lado direito da composição são cogumelos; há três pedaços de favos, creio que de vespa; o colar de contas vermelhas é a bonita e tóxica trepadeira selvagem, Tamus communis (ou Dioscorea communis), cujos nomes comuns são arrebenta-boi, buganha, baganha, norça-preta, tamo ou uva-de-cão; o fundo é um chão de cimento tosco, rodeado de musgo.

13 abril 2018

Líquenes na Linha

Já aqui dei notícias do reino micológico que é a Linha do Corgo. Mas ainda não fiz referência ao lugar como liquenelândia e, já agora, como musgolândia. Os taludes da linha, com inclinações que vão da curva suave ao perfil de desfiladeiro, estão revestidos de musgos e líquenes. Há “paredes” de xisto em cujos pequenos patamares se aninham verdadeiros jardins de muitas variedades daquelas duas espécies.

Esta composição exibe uma pequena amostra, com peças isoladas o quanto pude, que não é fácil desembaraçá-las umas das outras. Gosto de líquenes pela surpresa das formas que me parecem variações das coralinas.

12 abril 2018

Contra-natura

Quanto mais observo a natureza, mais ela me surpreende com as suas expressões fantásticas. Bem sei que acabo de escrever uma grande banalidade, mas é destas coisas — formas e ditos — que (também) vive quem procura o belo na Natureza. Levar espécimenes para casa, isolá-los, colocá-los sobre um fundo negro, poderá parecer contra-natura. Pessoalmente, faço-o para lhes destacar as formas, para lhes pôr em evidência a beleza que, o mais das vezes, passa despercebida a quem por ela passa.

11 abril 2018

Na banda do azul

Agora que as Lepistas nudas voltaram a alegrar-me as horas de busca de cogumelos, com aquela renovada surpresa de terem as lâminas lilases, lembrei-me de publicar esta composição feita em pleno Inverno com um belo exemplar dessa espécie que eu julgava ser excentricidade tropical. As conchas de mexilhão figuram aqui porque me parece que tudo o que tem cores da banda do azul puxa pelos tons marinhos delas.

10 abril 2018

Do micológico e botânico ao zoológico

A urze branca (Erica arborea) é mais discreta do que a roxa, mas se atentarmos no efeito visual que produz, vemos como tem jeito para noivar paisagens e lançar um perfume adocicado pelos caminhos, que deve ser do gosto das abelhas, a julgar pelo frenesim com que muitas se lhe aferram. Dispostos os raminhos em leque lateral como estão nesta composição, conferem à figura um ar de mosca gigante, ocorrência não inédita nestes posts.

E é assim que de uma composição de cogumelos e flores se passa por abelhas e moscas, ponte do micológico e botânico para o zoológico, um dos atalhos bastante batidos por artistas dados à busca — consciente, inconsciente — de analogias.

09 abril 2018

Chopin e Vivaldi

Hoje vai esta composição cujo tom evoca os «Nocturnos» de Chopin. Como contém materiais de Primavera, Verão, Outono e Inverno também pede as «Quatro estações» de Vivaldi. Não se podendo agradar a gregos e a troianos, vai-se piscando o olho a chopinistas e vivaldianos.

08 abril 2018

Ir ver os líquenes

E porque ainda chove, hoje sai uma composição com muitos líquenes, para lembrar a quem passeia pela natureza que o chão deve estar cheio dos que o vento arrancou, agora com as cores garridas e nutridos pela benfazeja água.Ver estes tesouros é uma boa razão para, num Domingo, abandonar o quentinho da casa, mas cada um sabe do que que quer, gosta e gasta.

06 abril 2018

Do que não enche o olho

Para hoje escolhi esta composição pequenina e simples para acompanhar ritmos brandos, aliviar congestões, ver para além do que enche o olho. Foi feita em Dezembro, quase na vertical de uma bela e bem liquenizada pedra de xisto.

05 abril 2018

Árvores floridas

Andar pelas ruas da cidade e pelos montes e vales e deparar com uma árvore florida é das coisas boas que a Primavera oferece.

Nesta composição usei um raminho para aliviar as cores escuras dos cogumelos e do fundo. Ah, e cá está outra vez a estrela-do-mar oferecida pela amiga Lina Sampaio.

04 abril 2018

Quase ready made

Se fosse dada a estados abúlicos do espírito — ou do corpo —, diria que fiz esta quase não-composição num dia em que, como Bocage, me encontrava pachorrenta. Mas foi mesmo por ter cogumelos em casa, ter muita vontade de fazer o gostinho ao dedo e o dia estar demasiado fusco e molhado para saídas produtivas para a natureza.

Este magnífico exemplar de Schizophylum commune encontrei-o na Linha do Corgo e estive quase, quase, para não o colher. E como Madre Natura já tinha caprichado no fungo, a Maria Natura bastou juntar água, digo, um líquen.

03 abril 2018

Cerâmica rolada, flores de leituga

Hoje vai esta composição para colorir um pouco o cinzento dia de Primavera. Os cogumelos de chapéu laranja-avermelhado são uma novidade para mim. Encontrei-os, com grande surpresa, por serem tão bonitos, tantos e tão tardios. Pelo avesso são esverdeados quando jovens e castanhos quando velhos, como é o caso dos que se encontram nesta composição. Tenho tido dificuldade em identificá-los, mas continuo a tentar e espero disso dar contas aqui, até porque ainda hão-de vir mais composições com eles, pois fiz várias.

O quase-semicírculo de “pedrinhas” é feito de cerâmica (tijolo ou telha) rolada pelo mar, mais um achado da actividade de beach comber, que pratico quando visito alguma praia marítima. O outro quase semicírculo é feito de flores de leituga, ou serralha (Hypochoeris radicata), planta cujas flores vejo durante todo o ano, chegando a ser quase únicas nos dias mais curtos de Dezembro, mas que agora surgem por todo o lado.

02 abril 2018

Narcisos

Os narcisos silvestres são das primeiras flores primaveris a despontar. E que bem ficam no terreno, no espaço exíguo entre duas pedras, num recanto insuspeito, quase no meio dos caminhos, encarrapitados pelos muros. Aqui deitei-os sobre um pedaço de madeira restante de uma travessa da linha do Corgo. Os cogumelos também são de lá, lugar donde nunca regressei de mãos vazias.

01 abril 2018

Boa Páscoa

Estes dois cogumelos grandes usados numa composição já aqui publicada e que têm o nome de Pleurotus ostreatus são dos que mais me encantam por terem forma de leque e me lembrarem corais. Aqui reuni-os com o fungo igualmente coralino, em forma de gaiola, mas desfeito, o Clathrus ruber. Os dois pedaços de madeira carcomida pelo mar (driftwood, em inglês) são recolhas da minha actividade recente de beach comber. O narciso amarelo serve de apontamento pascoal.