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20 dezembro 2018

Os que gostam de desfazer

Entre o branco manchado de cor-de-rosa pálido (ou millennial, como é chique dizer-se) e o cor-de-vinho retinto, há rússulas de todos os tons, no perímetro da barragem da Falperra, acima de Vila Pouca. E são aos montes, crescem em grupos, atroprelando-se, partindo-se, esmagando-se umas às outras, desafiando os crentes na harmonia, na bondade e noutras coisas elevadas que atribuímos à natureza. Mas na maior parte das vezes que as encontro nesse lastimoso estado (às rússulas e a muitos cogumelos não comestíveis ou de edibilidade desconhecida dos passantes), os estragos têm pé humano. Se não os comem, se não os usam para fins decorativos, por que razão os destroem? Por desporto, visto que é ao pontapé que fazem o serviço? Por desfastio? «Estou chateado, vou ao monte esmagar uns míscaros, a ver se me passa»... Para que ninguém os apanhe, porque podem ser venenosos? Aqui ainda poderia vislumbrar alguma razão plausível, mas as maiores vítimas encontram-se entre as rússulas e as Amanitas muscarias, os cogumelos mais fáceis de identificar pelas cores exuberantes com que se apresentam à humanal estupidez. Caso para dizer que a cor deles não engana. Ou deverei dizer «Gosto de desfazer o que é bonito»?

Estes gestos pequenos, de mal menor, mas quotidiano, gratuito e persistente rasgam-me sempre o ténue tecido de confiança na humanidade.

E agora reparo que o post vai sair um pouco azedo para a quadra natalícia. Paciência, contrapõe-se ao excesso de açúcar que quase todos vamos consumir.

19 dezembro 2018

Benefícios da chuva

O Outono tem sido chuvoso, muito mais do que o anterior. Bem sei que para a maior parte das pessoas, incluindo as de boa vontade, tanta água a cair do céu tem sido uma interminável seca, com licença para tão escancarado oxímoro. A mim alegra-me deveras ver transbordantes as águas das barragens que em Outubro tinham o fundo praticamente ao léu, ouvir o som dos rios e ribeiros que correm grossos, inalar o cheiro a húmus, ver o verde molhado das ervas renascidas, os líquenes inchados, os musgos aveludados, grande variedade de cogumelos e fungos.

Esta composição resulta da colheita de um pequeno passeio pela linha do Corgo, hoje de tarde, e contém 10 espécies de fungos.

18 dezembro 2018

«Eses, aquí, no los comemos»

Há duas semanas, na Galiza, lugar de peregrinação micológica, gastronómica e ociosa, encontrei estes tesouros, entre vários outros. Alguns passeadores de cães e de tédios, verbalizavam surpresa, curiosidade, preocupação pela minha colheita: «Eses, aquí, no los comemos». Lá tentava esclarecer que eram só para fotografar. Olhavam-me com aquela estranheza que raia a suspeita. Para tentar aliviar o desconforto, mostrava algumas fotografias. O encontro desanuviava, mas creio que por verificarem que me podiam encaixar na banda dos maluquinhos inofensivos.

11 dezembro 2018

Vergonhas

Passei agora pela exposição dos presépios das freguesias do município vila-realense. Há os simples, os simplórios, os inesperados, os assim-assim, os de concepção complexa e concretização feliz e os roubados. Sim, os roubados! Limparam-lhes as figuras.

O parque de lazer ou merendas onde fiz esta composição tinha muito lixo espalhado, creio que por bichos do monte, raposas ou javalis. Se o tivessem recolhido há um mês, que foi quando o vi lá, então nos recipientes próprios, não teria acontecido esta vergonha, que é o lixo remexido e exposto.

Por que razão é que aos limpadores de presépios alheios não lhes dá para irem limpar os montes do lixo deixado por uns, desleixado por outros e espalhado pelos animais?

Os montes ficariam mais asseados e a cidade liberada de alguns trastes.

10 dezembro 2018

Carvalhal do Bilhó

Conhecem o carvalhal do Bilhó, na Serra do Alvão? Recomendo a quem apreciar árvores — «Aux arbres, citoyens!» —, a quem quiser reviver a experiência infantil de pisar o folhedo caído, mas, especialmente, aos maluquinhos dos musgos e dos líquenes. Daqueles, há-os que nem veludo, de presépio, de estrela; destes, abundam as espécies que parecem corais, os que ficam azul-turquesa com a chuva, os cabeludos, os rapados, os que têm frutificações como pequenas moedas e os que as têm vermelhas como flores. Vão lá ver, que dá gosto.

08 dezembro 2018

Levada de Piscaredo

Fiz esta composição hoje na levada de Piscaredo, perto de Mondim de Basto. É um lugar tão bonito que me parece grande desatenção nunca ter ido lá antes. Para despertar apetites, digo que tem uma flora muito diversificada, vistas privilegiadas sobre o rio, cujo perfil vai acompanhando, vêem-se rápidos, cascatas, piscinas naturais. Da abundância e variedade de cogumelos, nem digo nada, que tocaria o obsceno. Não tardará muito até que volte.

07 dezembro 2018

06 dezembro 2018

O maior amor

Os medronhos cobrem o chão e os do ar estão no ponto de comer. Os cogumelos são aos magotes e as folhas das árvores abusam nas cores e jogam aos matizes. «É o Outono», dir-me-ão os praticantes da contemplação despachada. Pois será. Mas este ano está mais bonito. Ou estarei a padecer daquilo que leva a malta a dizer que o maior amor é o ultimo?

05 dezembro 2018

Amor perro

Enquanto fazia esta composição, o meu cão muito velhinho sentou-se a descansar as dores das artroses e a olhar para mim, com uns olhos que me fazem tremer qualquer coisa por dentro. Agora olho para esta fotografia e lembro-me daquela ternura. E hei-de lembrar-me muitas mais vezes. Espero...

03 dezembro 2018

Cá está

Um mês depois, cá está uma composição feita perto do mesmo local onde fiz a do post anterior. Desta vez, o lugar estava que nem o paraíso dos micófilos. Foi fazer composições até cair o crepúsculo e lamentar que seja tão cedo que isso acontece este mês.

02 dezembro 2018

Há mais de um mês

Já há poucas folhas totalmente amarelas e as flores são mesmo raras, mas apetece-me recordar esta composição feita na Galiza há mais de um mês junto do Tâmega, que corria manso e magro, antes das chuvas. Espero revê-lo em breve, mais insubmisso e vigoroso, e ainda com cogumelos bastantes nas margens.