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20 dezembro 2018

Os que gostam de desfazer

Entre o branco manchado de cor-de-rosa pálido (ou millennial, como é chique dizer-se) e o cor-de-vinho retinto, há rússulas de todos os tons, no perímetro da barragem da Falperra, acima de Vila Pouca. E são aos montes, crescem em grupos, atroprelando-se, partindo-se, esmagando-se umas às outras, desafiando os crentes na harmonia, na bondade e noutras coisas elevadas que atribuímos à natureza. Mas na maior parte das vezes que as encontro nesse lastimoso estado (às rússulas e a muitos cogumelos não comestíveis ou de edibilidade desconhecida dos passantes), os estragos têm pé humano. Se não os comem, se não os usam para fins decorativos, por que razão os destroem? Por desporto, visto que é ao pontapé que fazem o serviço? Por desfastio? «Estou chateado, vou ao monte esmagar uns míscaros, a ver se me passa»... Para que ninguém os apanhe, porque podem ser venenosos? Aqui ainda poderia vislumbrar alguma razão plausível, mas as maiores vítimas encontram-se entre as rússulas e as Amanitas muscarias, os cogumelos mais fáceis de identificar pelas cores exuberantes com que se apresentam à humanal estupidez. Caso para dizer que a cor deles não engana. Ou deverei dizer «Gosto de desfazer o que é bonito»?

Estes gestos pequenos, de mal menor, mas quotidiano, gratuito e persistente rasgam-me sempre o ténue tecido de confiança na humanidade.

E agora reparo que o post vai sair um pouco azedo para a quadra natalícia. Paciência, contrapõe-se ao excesso de açúcar que quase todos vamos consumir.

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