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19 janeiro 2018

«Para que serve?»

Desde que encontrei este fundo, cujo verde geado é de um musgo que não voltei a ver, até dar por concluída a composição, passaram menos de 10 minutos, tempo em que encontrei os cogumelos, escolhi os fetos e os outros dois elementos. Com esta rapidez, só podia sair simples. Guardei-a para quando me apetecesse desenjoar de excessos ou jejuar com o objectivo de aguçar o apetite para banquetes vindouros. Com estas metáforas do campo semântico da comezaina não se pense que eu manduco os cogumelos que uso nas composições. Se o fizesse, não passaria da primeira ou das primeiras, dada a toxicidade de muitos deles. Apanho-os apenas para uso decorativo. E se sublinhei o advérbio de exclusão, foi porque já me vi obrigada a fazê-lo perante os raros curiosos que chegam à palavra comigo quando estou em acção compositora. Não entende a mundanal gente que haja outro uso para os cogumelos para além da mesa. E logo a seguir não entendem uma actividade que apenas serve para fazer uma série rápida de fotografias. «Esse trabalho todo só para fotografar e desfazer tudo outra vez?! Ora...» E eu, convencida de que as coisas bonitas valem o trabalho que dão, mostro uma ou duas fotos, mas mesmo quando o meu interlocutor manifesta apreço por elas, isso não é suficiente para lhe remover, lá do fundo de si, aquele valor arreigado desde que começou a mamar, muito antes da idade de poder comer cogumelos, portanto, que é o da utilidade pura e dura. O que se destina simplesmente ao gozo dos olhos entra logo numa zona suspeita, um bairro da cidade sisuda onde a vida gira em torno da pergunta «Para que serve?»

Assim excluídos do lado ludens da vida, não admira que seja tão fácil torná-los escravos.

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